Singularidade

Ser um ser individual, alguém totalmente singular, existir em primeiro lugar para você mesmo. Excentricamente, originalmente é o que somos em meio a muitos. A tantos seres da mesma espécie, nos destacamos, somos diferentes uns dos outros.

É este o conceito real da singularidade, mas e a singularidade? Como podemos nos destacar quando precisamos ser singulares naquilo que sentimos, no que pensamos e em como agimos e nos desenvolvemos através dos anos que vivemos?

A singularidade física é evidente, a excentricidade física é característica da região que nascemos e da descendência a qual viemos. Já a originalidade é mais complexa, ela, a originalidade é desenvolvida, é moldada em cada ser desde os primeiros dias de vida.

Um bebe recém-nascido já apresenta características de originalidade nos seus primeiros comportamentos tais como: a forma com que aceita ou rejeita o seio materno, a maneira com que aceita ou rejeita a sucção do leite, a forma com que aceita ou também rejeita as caricias da mãe, do pai, dos irmãos (caso já os tenha) dos mais próximos dentre outros comportamentos que fazem parte de seu desenvolvimento.

E nós, pessoas maduras que estamos na maturidade da vida e que já atravessamos todos ou quase todos os obstáculos que apareceram em nossas jornadas? Como podemos ainda sermos singulares quando o mundo impões comportamentos e estigmas já pré determinados pelas “leis” criadas, voltadas ao ser considerado “idoso”?

É complicado, sim, é muito complicado pensarmos neste tema sem que possamos nos auto-diagnosticar no que diz respeito a este traço de personalidade, traços estes que vão nos definir como pessoas “diferentes” em meio à multidão.

Por que não nesta etapa da vida não ser ainda singular? Ter atitudes pouco frequentes, ser um ser extraordinário, ser quem de verdade queremos ser também nesta etapa da vida é o que nos faz singulares.

Quem se lembra de alguma “senhorinha” que lá pelos seus 80/ 90 anos ainda gosta ou gostava de pintar as unhas, usar brincos, vestir-se “na sua moda” com roupas coloridas, sair sozinha, tomar sua cervejinha com “as amigas”, aprender um novo idioma, quem sabe ainda frequentar uma universidade ou quem sabe uma roda de dança de salão ou até mesmo um forrozinho legal?

Quem não conheceu ou conhece aquele “senhorzinho” cheio “das coisas” que usa brincos na orelha esquerda, que ainda mantém a tatuagem conservada ou até faz uma nova, que calça sapatenes descolado, calça jeans e camisa de manga longa dobrada?

Quem já se deparou com estas duas situações ou com uma delas e de imediato veio a cabeça: “QUE RIDÍUCULO!”.

Eu já chamo isto de pessoas singulares, nada de ridículo, até pelo contrario, estas pessoas são corajosas e únicas, singulares, pois mesmo nesta idade ainda mantém seus gostos e hábitos inteiramente interligados ao seu traço singular.

Alguém chama a Rita Lee de ridícula? Ou já chamou? Acredito que não pelo fato de ser uma artista, alguém que necessita de sua imagem para manter-se neste mundo de competição que ela vive. Claro que não comparando com sua voz, canções lindas interpretadas com arte, mas e se a Rita Lee fosse uma senhora como muitas são? Vestidinhos comuns, sem nenhum traço de sua própria singularidade? Será que seria ainda a Rita Lee?

Quem conhece Maria Betânia? A excêntrica irmã de Caetano Veloso sempre manteve suas madeixas longas e naturais. Hoje já na maturidade da vida não se priva de andar por ai com as mesmas madeixas cobertas de longos fios branco natural de sua própria maturidade. Características de sua singularidade.

Portanto, ser singular é poder ser uma pessoa que em meio a multidão consegue ser alguém único, alguém que se coloca em um lugar particularmente seu sem ofensas ao outro e que individualiza sua própria identidade.

Muitas das vezes, na maioria delas, ser singular tem suas positividades porque sendo único o ser pode se identificar, se destacar naquilo que lhe é prazeroso naquilo que compõe sua identidade e que o mantém vivo para a vida que segue.

A grande maioria passa pela vida com total invisibilidade, se vestem “como a manada”, frequentam os mesmos ambientes que todos, viajam para os “pontos turísticos” que todos vão e assim vão levando suas vidas sem perceber que contam as mesmas histórias e estórias que muitos outros contam também, que falam de política, de religião, de moda ou até mesmo de culinária ou qualquer outro tema com as mesmas palavras que todos falam.

São iguais e quando se deparam com alguém que é singular, que dentro de sua excentricidade fala do exótico ou do que ninguém viu, que comeu da culinária que ninguém nunca experimentou, que ao se opinarem, opinam suas próprias ideias e ideais e não “copiam”, que se sentem bem vestidos como se vestem e não se importam com a opinião do outro, estes iguais, se assustam, assuntam de tal forma que até costumam inclusive rotular, rotulam pela “incapacidade” de não conseguir ser igual e ai com tal atitude enfatiza mais ainda aquele que pode ser singular, valoriza ainda mais suas características.

Eu li,

“Sejam únicos!

Ser único é ser singular ao mesmo tempo que ser é plural.

Ser único é ser multi ao mesmo tempo que é mono.

Só quem é único consegue ser tudo ou nada

O único separa e reúne nele mesmo tudo o que há de mais positivo descartando sempre o ….”

                                                                                           ”Leandro Honório Rodrigues”

Descartando sempre o????

Descartando sempre o preconceito, o pré-conceito, os estigmas, os rótulos e tanto mais…

O que pode este autor querer mais do que escreveu?

“Ser único é ser plural, é ser multi ao mesmo tempo que ser mono”

É verdade, o ser singular carrega no seu DNA a excentricidade da multiplicidade, ele consegue ser sempre ele que carrega muitos outros dentro de si mesmo.

Complicado explicar para quem não consegue entender.

Mas é como se o ser singular ganhasse a cada “fim de etapa” um premio de reconhecimento de sua característica dada a si mesmo, como se ele só se bastasse. Como se ele como individuo se reconhecesse de verdade único em todo seu ser mesmo vivendo em uma sociedade que tanto padroniza.

Portanto, se não queremos ser singulares, seja ao menos alguém que vê e respeita aquele que é, pois cada qual passou sua vida construindo e desconstruindo valores e em um momento da vida quis só ser único. Singular e isto lhe bastou.

Pense nisso.

Gilwanya Ferreira

CRP 04/42417

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