Demissexualidade

Em 11.02.2020 escrevi sobre o Ser Assexuado (visite o blog), um tema pouco conhecido, porém muito presente na vida das pessoas.

Hoje decidi escrever sobre um tema também muito polêmico e creio que quase ninguém conhecia mesmo sendo um deles que é a Demissexualidade.

No dicionário não há explicação sobre o tema, até porque ele surgiu pela primeira vez em 2008  no site Rede de visibilidade e Educação Assexuais  (do inglês “Asexuality Visibility and Education Network“, ou AVEN), e vem sendo usado desde então por mais pessoas que se identificam com esse conceito.

 Em pesquisas pude constatar que demissexualidade é uma orientação sexual muito presente e pouco conhecida e por esta razão as pessoas demissexuais são muito julgadas e até hostilizadas pela sociedade que vive.

Mas por que escrever sobre este tema numa época de nossas vidas em que o sexo (ato sexual) é totalmente focado como uma prática “moderna”, essencial e até mesmo “obrigatória” entre pessoas que se aproximam, se conhece e de alguma forma convivem entre si?

Não sendo alguém que quer julgar, apenas estou escrevendo para que mais pessoas possam se interar do tema e quiça se colocar neste lugar conhecendo-se e consequentemente não mais se “culpar” por não querer “transar” apenas pelo simples fato da atração que o outro lhe causa.

A atração física é algo natural entre os seres, todos, sem exceção usam de suas artimanhas, seus valores físicos e intelectuais para atrair o companheiro, é fato, porém nem todos se permitem ao ato sexual apenas pela atração física, é preciso muito mais.

Quem nunca ouviu algum comentário dizendo:

– “Nossa! Ele (a) é tão feio (a) para ela (e)?”.

-“Meu pai! Como pode? Nada a ver um com o outro”.

Mas entre eles (estes casais) as afinidades são impares e sim eles vivem uma linda história de amor.

Mas e o ato sexual em si?

Por que muitos não se permitem?

Nos meus muitos anos de profissão como capacitada em sexualidade ouvi muitos relatos de pessoas que chegam até mim queixando ser alguém que é sempre julgada por não querer transar com aquele “cara lindo que a cantou, com aquela mulher tão atraente” por não se sentir a vontade em praticar o ato sexual apenas pelo desejo físico então daí em diante ela (e) começa a se imaginar ou acreditar por tantos nomes a ele (a) é direcionados como “fresca”, “boiola”, “homossexual”, às vezes julgada (o) como alguém que “talvez” possa gostar do mesmo sexo, etc, etc, etc.

Títulos e rótulos são “pregados” neste ser que apenas não quer transar, quer ser amigo, gosta da presença, aprecia o cheiro, gosta do toque, mas … o ato sexual naquele momento não é o foco principal.

Por que isto acontece?

Vamos lá… Encontrei esta explicação muito coerente e a copiarei usando aspas para preservar a autoria.

“ Demissexual: Pessoas demissexuais se movem através da conexão com o parceiro. Para eles, a atração sexual só aparece depois de estabelecido um vínculo psicológico, intelectual ou emocional. Ou seja, a pessoa não sente atração por uma pessoa apenas porque ela é bonita”

Entenderam?

Muito bem explicada é o que acontece, o ser Demissexual é um ser como qualquer outro, tem desejos, tem momentos de êxtase, vive seu ápice de prazer, mas de uma forma singular, ele apenas vive este momento quando de verdade sente-se atraído pelo parceiro.

Alguma vez você conseguiu auto se analisar após um “encontro sexual” e se perguntou por que se permitiu a esta situação uma vez que não seja este parceiro o “ideal” para sua vida?

Creio que na atualidade muitos já se questionaram a tal fato, contudo o ato sexual aconteceu e “foi muito bom”. Afirmo que isto é puramente normal porque de fato existem muitas formas de atração que será um próximo assunto para nosso blog, não há motivos para se sentir “culpado” ou outro sentimento, se você agiu, participou e usufruiu de seus prazeres, siga adiante.

O Demissexual não agiria assim, ele (a) somente cederia ao prazer sexual se se sentisse atraído por um forte vinculo emocional para com seu parceiro, vinculo este que abrangeria não só a beleza física ou outro atrativo como um momento romântico, um olhar sedutor ou um toque suave, mas sim um vinculo que somado a todos estes também envolveria o intelectual, o social, o psicológico e o emocional.

Não obrigatoriamente o Demissexual precisa se casar para praticar o ato sexual, não, ele apenas necessita do “digamos de uma forma mais antiga”, do amanhã.

Manter um vinculo afetivo com seu parceiro é o fundamento do Demissexual, ele precisa da certeza de um estado duradouro em que ambos possam “contar um com o outro”, fato hoje que se torna extremamente complicado pela fluidez dos relacionamentos atuais então o demissexual prefere estar sozinho a transar apenas por desejo carnal.

A atração pode até acontecer, o olhar pode ser como de uma flecha, o corpo pode até desejar, o cheiro pode ser compatível assim como as conversas, e a presença, mas se o Demissexual percebe que esta relação será líquida, sem se delongar ele não se permite, mantém de certa forma “esta amizade” que lhe faz tão bem, mas recusa-se ao ato sexual.

Os estereótipos sociais na atualidade pregam o ato sexual como consequência de uma noite divertida, romântica, de um telefonema, de um encontro na primeira vez dentre outras tantas situações.  Para o Demissexual tudo isso tem seu valor porém a parte do ato sexual ele(a) quer companhia, a alegria de estar juntos, de apenas se divertirem, ele nunca colocará um “fim de noite” num motel ou em uma cama qualquer, o forte vínculo emocional precisa estar presente para que esta situação possa se reverter.

O Demissexual não é como todos, ele não se envolve sexualmente com o outro apenas por acha-lo digamos “um lindão, um filé, um gatão (tona) ou coisa similar, seu interesse vai muito além do carnal, seu prazer só é total se ele (a) encontra afinidades e permanência na relação.

O Demissexual também tem sentimentos, ele (a) acha lindo aquele beijo romântico dos filmes, ele (a) também sonha com aquelas longas noites maravilhosas em que sempre a lua está em sua plenitude, ele (a) é também um romântico (a) inveterado (a), mas ele (a) o Demissexual sabe que nem sempre tudo isso corresponde com a realidade em que estamos vivendo então ele se permite estar em seu mundo vivendo e vivenciando suas características mesmo que saiba que “fora da caixa” ninguém pensa e age como ele.

Portanto meus leitores queridos, antes de julgar aquele (a) que saiu e não quis transar, que te recebeu e negou-se ir para cama ou que a muito está sozinho (a) saiba que com toda certeza não é por opção e sim por não encontrar pessoas que hoje conhecem a Demissexualidade e que respeitam ou mesmo queiram algum tipo de “compromisso”, afinal, para que quê não é? Hoje é simples, qualquer sinal é sinal sexual e a vida é líquida, passa…

Para aqueles que se identificam como Dimessexuais digo que não há sofrimento, existe ai o respeito à sua própria natureza, o respeito à suas escolhas e preferências, uma hora ou outra tudo poderá se transformar porque somos seres mutantes e como o mundo não é constante este ser também te encontrará.

Pense nisso.

Gilwanya Ferreira

CRP 04/42417

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