Os efeitos psicológicos positivos do namoro na terceira idade

A terceira idade nos dias atuais passou a ser alvo de pesquisas e de estudos de todos os seguimentos da ciência humana.

O mundo esta envelhecendo a cada dia e é visível a preocupação de todos quanto à saúde tanto física quanto mental do cidadão.
Não é incomum encontrarmos casais de namorados com mais de 50,60 anos que assumem seus relacionamentos e vivem intensamente cada momento

Em homenagem ao dia dos namorados quero publicar um fato lindo que vivi, presenciei, pude conhecer muito de perto e que me fez repensar no significado da palavra Namorar e o que é “Namorar quando se está na maturidade da vida”

O relato –


Outro dia conversando com uma senhora de 92 anos, M.C confesso que fiquei surpresa com seu relato e ao mesmo tempo muito feliz com que ouvi. Conta ela: 
– “Casei-me muito jovem e como mandava o figurino da época com um homem que meus pais arranjaram para mim, ele era vinte e dois anos mais velho. Meus pais me falavam que isto era bom porque um homem mais velho iria criar nossos filhos e cuidar da família . Assim foi e nosso casamento durou 52 anos.

Tivemos apenas dois filhos, acho que Deus não quis me dar mais e tudo corria bem, só que algo faltava em mim, eu era feliz com aquilo que eu tinha, mas sempre lá no fundo o meu coração sentia-se vazio, faltava algo, eu não sabia o que era.

Os anos se passaram e um dia meu marido adoeceu e uma semana depois morreu, foi um baque danado de ruim, meus filhos crescidos me ajudaram muito. A vida foi passando e ela mesma se encarregou de tomar novos rumos, eu comecei a frequentar um centro de convivência para pessoas da minha idade porque eu passava as tardes toda sozinha. Ali eu achava muito bom, eu convivia com minhas companheiras, com novas amizades, naquele lugar eu me entertia, eu bordava, pintava, dançava, ria, passava as tardes sempre tendo algo para fazer enquanto meus filhos não podiam estar comigo. 
Como eu acredito que tudo nesta vida é Deus quem determina eu um dia “agradei” de um homem muito charmoso que frequentava aquele lugar, meu coração se rebelou, se colocava em festa quando eu o via, era estranho, mesmo sem eu querer  eu me sentia como uma menina que levitava nas nuvens (risos) até que um dia  uma de nossas coordenadoras que era muito querida de todos percebeu meu embaraço no exato momento que ele estava por perto e ela com seu jeitinho especial se prontificou a ser nossa “cúpida”. Ela nem teve dúvidas, logo foi nos apresentando, sabe como é não é, gente mais velha tem pressa, e nós dois com uns quatro meses de conversa resolvemos morar juntos. 
O padre de nossa paróquia nos chamou e depois de uma conversa muito agradável marcamos a data do nosso casamento. Para os meus filhos eu apenas os comuniquei que iria casar, sabe, eu sempre fui lúcida e sempre soube o que quis para minha vida e ele eu queria como marido. Foram dias felizes, acredita que até lua de mel fizemos? (risos) fomos para Campos do Jordão, eu nunca havia viajado e ele era de uma terra lá de perto.
Durante uma semana passeamos, conheci Aparecida do Norte e outras cidadezinhas na região. Quando chegamos em casa, tudo estava arrumadinho, meus filhos haviam trocado a cama, minha menina havia comprado jogos de lençóis, colchas novas, toalhas de banho etc. nossa casa estava linda, nela vivemos muito felizes, “eu era só rizaiada” (risos altos ), ele era bom de mais pra mim e para os meus filhos.

Ele era alegre e brincalhão, com ele nada embaraçava, ele era justo e muito honesto, trabalhador que só a senhora vendo, mas Deus não quis, Ele levou meu Zé, dois anos só de casados… (silêncio), mais fazer o que né?! Ele é quem manda. 
Eu novamente sozinha comecei a viajar, optei em ir  práqui, e prali com o centro de convivência, tava gostando muito, mas me sentia muito sozinha. Uns 3 anos depois de ter ficando novamente viúva num é que numa viagem eu olhei pro Francisco e o Francisco olhou pra mim e o danado  acabou mudando de lugar numa daquelas paradas da estrada e sentou do meu lado, meu Deus! meu coração ficou gelado, ele era um coroa muito bonito, alto, magro elegante, vestia-se muito bem e era muito cheiroso, (risos) era não, é (risos),  é muito cheiroso de mais, e então nas nossas prosas chegamos a conclusão que não íamos casar, mas para sempre seríamos namorados, e é o que é que esta sendo, ele tem 94 anos hoje eu 92, somos “jovens” de espírito” viajamos muito até hoje, ele vai na minha casa ( hoje moro com meu filho e minha nora que já casaram os filhos) (eu gosto de morar lá), nas terças, quintas, sábados e domingos.

Quando meu filho e minha nora viajam ele dorme lá em casa comigo (risos altos) a gente fica mais a vontade sabe? (risos quase compulsivos). Eu não tenho doença nenhuma, não tomo nenhum comprimido, nenhum, acredita? ele também não. Não temos colesterol, nem pressão alta, nada, fazemos os exames todos os anos e o médico disse que eu sou “uma exceção, que somos ambos, que o amor foi bom de mais para nós dois, foi bom pra mim, foi bom até para minha pele, (novamente risos compulsivos, passando as mãos no rosto)”.
Eu, ali atônita, perplexa diante do que ouvia e me sentindo ao mesmo tempo muito feliz em entrevistar aquela pessoa tão especial que eu acabava de conhecer não aguentei a curiosidade e perguntei como era a vida sexual deles e foi então que surpreendentemente pude ouvir a uma resposta totalmente inesperada.
– “Nós transamos (risos mais tímidos) precisamos estar atualizados com os termos da mocidade”. Claro que não é uma coisa periódica e rotineira, não, nem ele nem eu somos doidos, sabemos que não somos jovens e vai que ele tem um piripapo ali na hora né? (risos e risos felizes).
Nós valorizamos muito é estarmos juntinhos sabe, é gostoso de mais da conta dormir até hoje abraçada a ele, saber que ele está ali me aconchegando nos braços dele, (risos) é algo que não consigo explicar.

Ele é um velhote charmoso, (me mostrou a foto). Aproveitamos cada dia de nossas vidas como se fosse de verdade o último dia que vamos estar juntos porque com a nossa idade “a cota” creio eu que já esta é quase vencendo, (risos e mais risos).
Somos felizes de mais e não temos “problemas de cabeça” e isso já é uma benção, outra benção é não precisarmos que nossos filhos cuidem da gente, eu optei em morar com meu filho e minha nora porque eles vivem em uma casa boa e grande e eles casaram os filhos e acabaram por voltarem a viver sozinhos, como eu também morava sozinha alugamos minha casa, eu recebo o aluguel ajudo meu filho com algumas coisas da casa (faço questão) e eles também aproveitam porque viajam muito e sabem que a casa não estará sozinha.
Fizemos um trato, eles revezam conosco os dias de viajem e está funcionando bem de mais.”.
Conversamos por mais um longo tempo e conforme o tema proposto para hoje eu aprendi que namorar faz muito bem sim, e viver um namoro saudável não é privilégio da garotada não, os “mais experientes” também têm este direito porque se ao contrario fosse, muitos idosos hoje estariam condenados a viverem sozinhos para o resto de suas vidas, e isto não seria bom.
Hoje as possibilidades de se conhecer pessoas da mesma idade são comuns e se tornou mais fácil depois da criação dos centros de convivência, de viagens especializadas para maiores de 50 anos, bailes, etc. Que estes lugares e nestas situações todos “são iguais”, eles frequentam o mesmo ambiente com os mesmos propósitos, ou não, isto não importa, o que é considerável é que ali ou em outros lugares eles podem sim “paquerar” e chegar a assumir um namoro sério e saudável.
Claro que devido a costumes antigos, a estigmas já enraizados é necessário uma orientação sexual mais explicita neste período da vida para evitar contaminações causadas pelas doenças sexualmente transmissíveis.

Muitos idosos principalmente homens não usam preservativos em suas relações porque “não foram acostumados” e algumas mulheres pelos costumes familiares da época não conheceram a necessidade de também se cuidar, porém a maioria deles são capazes de compreender, aprender, aceitar e consequentemente de alguma forma se prevenirem.  

Soube que muitos antes de qualquer contato sexual com suas parceiras e por não conhecerem o histórico de vida um do outro procuram um médico de confiança e fazem os exames necessários para garantir a satisfação tanto física quanto emocional do casal, afinal com a saúde não se brinca.
Hoje uma grande parte desta população envelheceu saudável e se não totalmente, parcialmente ativa e participativa, fato que sem dúvida esta ajudando em muito na qualidade de vida e no bem viver destes seres tão especiais.
 Daí desta história toda eu também aprendi que:

– Namorar é sentir-se vivo e desejável pelo seu parceiro, namorar é conquistar com olhares o olhar do ser que se ama, que se pretende amar.

Namorar é mesmo estando longe sentir a presença do outro, namorar é fechar os olhos e conseguir ver o outro tão próximo que em alguns casos até o aroma de sua pele é possível perceber.

Namorar na melhor idade é conhecer a diferença que existe entre sexo e sexualidade e valorizar a sexualidade porque é ela vai permanecer por toda vida.

Namorar na melhor idade é sentar para ver um filme sem se preocupar com o corpo que envelheceu, é sentir o prazer do prazer de estar um do lado do outro, é deixar o coração gritar e estremecer de prazer quando um beijo é trocado ou roubado apenas pelo desejo do sabor da boca do outro.
Namorar na melhor idade é inventar um prato na culinária só para surpreender o parceiro com um novo sabor.

Namorar nesta etapa da vida faz bem para a alma, faz bem para o corpo, para a circulação sanguínea e como disse o “medico de dona M.C, faz bem também para a pele”.

Eu compreendi que os efeitos psicológicos do namoro saudável na terceira idade será sempre positivo principalmente quando o casal se ajusta no mesmo propósito e que quando eles conseguem seguirem  juntos “namorando”  eles vão com certeza terem maiores possibilidades de manter uma vida mais saudável e diferenciada dos demais que por alguma razão vivem sozinhos.

Eu entendi que se juntos eles conseguem toda estas “proezas” eles também vão entender que mesmo com os desgastes naturais da idade eles não terão problemas em garantir momentos felizes e tranquilos e que juntos eles vão se ajustarem nas escolhas que fizerem. 

Eu aprendi que o amor não tem idade, para o amor não é necessário uma idade, ele chega, chega quando o coração pede a presença de alguém, ele chega quando os corações se encontram através do olhar e amadurece quando os corpos se conhecem, ele simplesmente chega, chega às vezes de onde nunca poderíamos imaginar.

Eu distingui a diferença entre o que eles me disseram em que ESTAREM sozinhos não é de todo ruim nesta etapa da vida porque muitos já calcificaram algumas “manias” que se tornam enraizadas e difíceis de serem moldadas, mas que eles não querem SER sozinhos e que este que é o problema, pois o simples fato de saberem que tem alguém que se preocupa, que se gosta e que podem estar juntos quando ambos desejarem, que eles podem e ainda conseguem imaginar um olhar, um sorriso maroto de um bom dia, um abraço apertado, um colo e um cheiro fará toda diferença no percorrer dos dias vividos.

Daí eu digo, vale a pena pensar que muito além do sexo, o namoro na terceira idade ultrapassa as barreiras da solidão, vence a tristeza e alimenta a ilusão e também a vontade de viver. 
Namorar na melhor idade é fazer de uma velha historia uma nova leitura de vida, namorar na melhor idade é ter a certeza de que se pode ainda amar e sentir-se amado e que ainda é permitido “unir as bagagens da vida” para que uma nova “mala de viagem seja feita”.
Então, vale a pena acreditar que:

– Namorar, namorar é bom de mais…
Pense nisso.

Feliz dia dos namorados para todos de todas as idades!


Gilwanya Ferreira
Psicóloga CRP 04/42417.

“Infelizmente depois de três meses desta entrevista dona M.C faleceu e um mês depois Sr. Francisco também partiu.”

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2 thoughts on “Os efeitos psicológicos positivos do namoro na terceira idade

  1. Muito obrigado pelo texto Gyl emocionante.
    Serve como parâmetro de vida para os novos idosos.
    Namorar sempre!

  2. Muito obrigada pelo carinho, se você tiver alguma sugestão ela também é muito bem vinda

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