Vida a Dois

É interessante este título sugerido por um leitor lá do Rio de Janeiro. Um “cara” bonitão de 60 anos bem colocado na vida, aparentemente bem resolvido também, mais por que esta dúvida?

Coversando com ele “inbox” entendi que sua dúvida é entender o significado desta vivência, o que e como seria a vida a dois no olhar de tanta gente, os encantos e as dificuldades enfrentadas nesta caminhada.

Em uma etapa da vida de todos nós (ou a grande maioria) nossas atenções normalmente estão voltadas para o encanto de se viver a dois, encontrar a pessoa que passaremos “o resto de nossas vidas” ao lado, a pessoa que completará, acrescentará, dividirá todos os dias ao nosso lado, e tantas outras mais colocações, metade de nossa laranja, par perfeito, casal 20, etc, etc etc. Isto  é um fato quase que concreto, mas…

Vamos voltar um pouco ao passado. Para nós que temos a mesma idade, um pouco menos ou um pouco mais que este leitor lembra-se muito bem (para quem viveu presente) o quanto era “lindo” o amor de nossos avós, o quanto viviam “bem” ou pelo menos pareciam viver bem e o quanto juntos eles caminharam o percurso da vida.

Alguns de nós também viveu as “separações de seus pais, coisa que naquela época não era tão comum, não havia divórcio, as mulheres eram “desquitadas”, taxadas como tal, diferentemente dos homens, eles, eles não tinham títulos, eram homens e só, mudanças que hoje não são mais generalizadas, estão globalizadas, somos divorciados e ponto.

Bem, lembranças à parte sabemos que a união do homem e mulher, a vontade de uma vida a dois nasceu desde que surgiu o homem (citação bíblica) quando o Criador sentiu a necessidade de dar a ele outro ser que estivesse ao seu lado em todos os momentos, então criou-se a mulher, (citação bíblica) um ser tirado de uma costela, simbolizando o  “estar ao lado” permanecer-se ao lado de seu companheiro e juntos modificarem a existência deste mundo. Explicação tão complexa e ao mesmo tempo tão clara, tão pura e tão verdadeira quando se quer falar de vida a dois…

Claro que não foi exatamente assim, nem mesmo nestas citações porque também é fato que geniosamente Eva sentiu-se tentada e cometeu seu primeiro deslize “comendo o fruto proibido”, ai, pergunto-me: Por que será que ela sentiu tanta “tentação”? Por que? Por que se dispôs a “cometer este ato” conhecendo ser a única proibição?

São dogmas que não nos cabe agora discutir, mas que diante do título sugerido podemos criar uma doce comparativa.

Quem pensa que a vida a dois será como nos contos de fada, “E VIVERAM FELIZES PARA SEMPRE” engana-se, não pode ser assim, não teria como dar certo uma vida tão certa porque a vida não é assim, a vida como várias vezes e em varias ocasiões foi citado é uma roda gigante, existirá horas que estará parada, sem nenhuma intempérie, mas calçada de um sobressalto da dúvida quanto a “segurança” daquele equipamento, assim é o que é a vida, momentos bons que apoiarão os ruins, choros que serão acalentados pelas gargalhadas, desilusões que serão abraçadas pela ilusão de momentos perfeitos, simples assim.

“Um sonho de uma vida a dois ao seu lado, é melhor do que qualquer realidade que eu possa viver.”

“Faltava apenas um ingrediente para que a receita da minha vida feliz desse certo e esse ingrediente era você. Obrigado por me amar e me dar tanta felicidade.”

“Seu olhar me traz paz, cria luz em meu coração; o brilho do teus olhos é como o diamante mais bonito de todos.”

“Quando você apareceu, viramos dois que na verdade são um e pude ver o quanto fui sozinho até o seu amor me consumir”

Ficaria aqui copiando e colando milhares de citações, milhares de declarações que enfatizam a beleza da vida a dois, as infinitas juras que são trocadas no “altar” quando é concretizada a vida a dois, quando se promete amor infinito, na tristeza e na alegria, na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença, ser fiel “até que a morte nos separe”, mas… daí, chegam os filhos, chegam as dificuldades, cada qual com sua personalidade, cada qual com seu caráter deixam – se fundir perfeitamente, fazem dos  corpos a junção majestosa do côncavo e do convexo  até que “algo” começa dar errado, até que os gênios começam a se colidir na atmosfera do recanto construído, discussões surgem sem motivos e começam as perguntas, começam surgir os medos e as discórdias. A estrada que antes era única começa a se desdobrar, surgindo encruzilhadas dando “opção” à mudança da trajetória.

O ronco que antes não era percebido agora virou um tormento, a toalha molhada que antes era “deixada” agora virou problema, o ler o jornal nas manhãs que antes era um fato meramente cultural agora virou desprezo, desatenção.

O querer “estar” sozinho que antes era respeitar a individualidade do outro agora é visto como querer “ser” sozinho, não existe mais (não generalizando) compreensão, o compreender que somos cada um, um ser individual e que lá atrás quando estávamos sendo educados pelos nossos pais e até mesmo pela sociedade que fomos inseridos fomos “moldados” cada qual com sua cultura familiar, cada qual com suas independências únicas, cada qual com seus pensamentos, suas ideias e ideologias, cada qual com seus conceitos e pré-conceitos e também preconceitos já estabelecidos. Que quando se conheceram, cada um já carregava “em sua mala” toda uma bagagem única e que quando tomaram a decisão de viverem “juntos para sempre” nem sempre se lembram de “abrir esta mala” enquanto o encanto ainda existia.

Chega então a realidade, o dia em que é necessário “usar” as peças vindas do passado. Por mais que sejamos maleáveis, por mais que necessitamos nos remoldarmos à vida a dois chegará um momento que não será possível “ser outra pessoa”, nunca é possível, já chegamos com nosso ronco, com nossos odores, com nossas “manias” com nossos sonhos, com nossas qualidades, com nossos predicados e também com tantos defeitos de fabricação porque outros podem e devem ser reparados.

Chegamos à vida a dois carregados de ilusões, momentos lindos que o namorado viveu ao lado da namorada, momentos mágicos nas viagens a dois, nas noites intermináveis de amor ou de conversas a dois.

O mundo lá fora se torna colorido, não tem mais a cor cinza, os momentos de choro, de tristeza, de dúvidas facilmente são contornáveis, um abraço carinhoso, uma jura de amor acalmará o outro como bálsamo.

As cólicas menstruais e as TPMs são coisas naturais, o brochar do homem é normal, está cansado, preocupado, etc e tal… Mais o tempo vai passando aqueles momentos se tornam rotineiros, os filhos para quem os têm, choram, exigem, gastam nosso dinheiro e nossa energia e para os que não têm outros pormenores viram gigantes perto da beleza que existia e ai a tão esperada Vida a Dois se torna pesada, se torna desgastada, se torna impossível de seguir.

Aquela estrada única que ao longo do tempo criou encruzilhada agora é vista como atalho para uma nova construção.

As brigas, mesmo as silenciosas começam a surgir, as viagens a dois agora são impossível, cada qual tem “suas companhias”, as risadas não mais existem, as conversas intermináveis agora dão lugar ao silêncio profundo ou o “não querer” a famosa DR…(discutir relação).

Não tem mais VIDA A DOIS, agora é cada qual, cada qual que  segue seu caminho, muitos vivendo debaixo do mesmo teto, cada qual defendendo “seus direitos” cada qual impondo suas exigências e aquela linda fusão se rompe às vezes lentamente ou brutalmente como represas  causando a inevitável separação da linda VIDA A DOIS .

Portanto desde sempre é necessário a compreensão que para se ter e manter uma Vida a Dois é necessário resignação, é necessário companheirismo, é necessário abdicação, é necessário conversar, expor-se, expor desde sempre principalmente seus defeitos.

Não deixar morrer ao longo dos anos as intermináveis conversas que existia no passado, não permitir que uma dor possa virar ferida incurável apenas pelo orgulho de não ser parceiro.

Permitindo-se sempre, respeitando a subjetividade de cada um, entendendo que “naquelas malas” que juntas foram levadas a um lar existe vida, vida única e que se aberta no primeiro dia da VIDA A DOIS elas poderão ser sim o alicerce para um futuro cheio de surpresas, cheio de perfeições e imperfeições.

Aprender que o Nós deve imperar diante do EU que o acreditar deve superar a dúvida e que o amor deve ser um sentimento e não uma obrigação, um sentimento que se alimenta no BOM DIA e que se acalma no BOA NOITE  que assim agindo  sempre terão a certeza de que pequenos ajustes devem ser sim elaborados e respeitados, mas que assim agindo  eles terão sempre o bem viver da VIDA A DOIS.

Pense Nisso

Gilwanya Ferreira

CRP 04/42417

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