Um dia em meu consultório atendi a um casal que chegou com a queixa de que eles não mais praticavam o ato sexual, mas que existia amor suficiente para que eles tivessem juntos a coragem de procurar ajuda para entenderem as

Diferentes etapas do desejo sexual.

Confesso que por estar naquela época iniciando meus trabalhos dentro da sexualidade tive um interesse redobrado na atenção deste caso, afinal seria colocar na prática tudo que eu havia aprendido nos livros.

Bem, chegaram tímidos os dois de mãos dadas sentaram-se confortavelmente na poltrona de meu consultório depois do caloroso abraço em ambos.

Acanhados eles olhavam um para o outro como que perguntando no olhar quem iria dar inicio à conversa. Notando um pontinho de constrangimento iniciei dirigindo-me à esposa. Dona Laura, 72 anos, uma beleza rara, olhos expressivos e um sorriso contagiante.

Então, pelo que sei vocês vieram aqui em busca de sanar dúvidas sobre as etapas do desejo sexual, é verdade?

Sim, é verdade, sendo interrompida por Sr. Pedro, homem forte para seus 77 anos, semblante fechado, mas sereno, queremos “fazer amor”, eu ainda sou ativo mais sinto que Laura já não tem “tanto interesse”.

Deixei que os dois falassem tudo que lhes vinham do coração e depois do longo depoimento de ambos chegou o momento de esclarecer.

Nossos desejos sexuais são naturais e são despertados ainda na idade jovem e se estendem por anos e anos de nossas vidas e em muitos casos por toda vida.

Muitos acham que a prática sexual seja algo característico da juventude e da idade adulta tanto do homem quanto da mulher e ainda há a fantasia de que a mulher passa ser um ser inexistente sexualmente quando ela chega a madures da vida.

Normalmente para os homens este estigma não é colocado até porque ainda vivemos uma cultura machista onde o homem precisa ser “garanhão” em toda etapa da vida, porém para as mulheres o contrário é dominante, idosas são rotuladas de assexuadas e precisam estar sempre atentas aos seus desejos, pois eles são até mesmo “pecaminosos”.

Há ainda o mito regente em que no momento da menopausa, o momento em que a mulher perde a capacidade de gerar ela também perderá o interesse sexual apenas pelo prazer e gozo que tal ato pode proporcionar.

Sabemos que o ato sexual tem relevância muitas das vezes prioritária na vida de um casal, porém muito pouco se sabe sobre as etapas que são vencidas anos após anos na vida de um ser humano e principalmente na vida de uma mulher.

Na idade jovem onde o corpo está em ebulição o interesse pelo sexo se torna algo quase diário, mocinhas e mocinhos vivem o que chamo de fase do sexo explosivo, podendo eles praticam o ato sexual muitas vezes ao dia.

Vêm a idade adulta, casais se encontram e o desejo aflora, mas o ato sexual não está mais 24 horas nos seus pensamentos, o desejo acontece quando o interesse é mútuo.

Chega-se à idade da menopausa e da andropausa, a mulher madura assim  como o homem já viveram etapas e etapas marcantes no que diz respeito ao ato sexual e agora depois de anos e anos juntos como casal ou não, as peripécias da vida vão deixando de lado o afoito sexual é o que chamo de “ etapa  da conquista sexual”.

Casais se esquecem de que como qualquer outro animal é necessário conquistar, “no mundo irracional vence aquele que tem maior capacidade de conquista” então porque entre nós seres racionais esta conquista acaba?

Sr. Paulo olhando para Dona Laura interferiu na minha fala:

“Eu a conquisto, não conquisto Laura?”

Deixei que ela o respondesse.

“Acho que não, às vezes acho que sim, não sei responder”.

Sr Paulo então me perguntou,

“Conquista? Como? O que tem que ser feito para se conquistar? Eu dou presentes, tenho o cuidado de não deixar as latas vazias, sempre a levo para a praça da igreja, para a sorveteria, eu acho que isso é conquista”.

Sim, respondi a ele, Sr. Paulo é conquista sim, mas no ponto de vista de cuidado e não de sedução.

Agora ele me olhou sério e sendo interrompido por Dona Laura ela disse: “É verdade, isso é verdade, ele é cuidadoso comigo, atencioso, mas nada sedutor como era quando jovem que me olhava com olhar de desejo e que eu sentia meu corpo arrepiar de desejo também.”

Então, disse eu, está vendo a diferença? É ai que está a diferença necessária para entender que ato sexual acompanhado pelo prazer da prática da sexualidade é a parceria perfeita para casais que estão na idade de vocês, alguns mais jovens outros até mais velhos.

E foi assim que começamos a nos entender que o desejo sexual pode ser despertado mesmo após a menopausa e a andropausa e que ambos entendendo o “poder que está escondido” na prática da sexualidade o ato sexual pode acontecer sim e que ele chegará com a mesma intensidade e voracidade da idade jovem, claro que dentro da capacidade de cada casal, respeitado a subjetividade impar predominante.

Sabemos que hoje o papel da sexualidade praticada após os 60 anos se tornou algo de fundamental relevância tanto para a saúde física quanto mental de homens e mulheres e que qualquer interferência negativa neste aspecto vem a ser um “sinal de alerta” de que algo pode não estar bem em seu organismo, pode estar acontecendo uma hipertenção, quem sabe diabetes ou outras enfermidades que chegam e “atrapalham” o desejo sexual.

Ato sexual é vida, prazer e gozo são fontes de saúde, homens e mulheres maduros que tem uma boa saúde física e mental são capazes de conduzir a prática sexual até a finitude.

Estudos comprovam que casais unidos pelo amor verdadeiro e que são alimentados pela sexualidade conseguem atingir a longevidade com alegria de viver diferenciando-se daqueles que se “murcham” para a prática sexual.

Na idade madura o ato sexual passa ser mais tranquilo, o ato sexual se torna uma prática confiante característica daqueles que viveram anos e anos e conquistaram a confiança e o carinho, a liberdade de expressão e a sinceridade que a própria idade permite.

A sexualidade na idade madura é uma prática menos arrojada, mas muito mais calorosa, uma prática que tem o interesse ou não do ato em sua plenitude.

A prática da sexualidade é afetiva no que diz respeito ao momento certo de ambos conhecerem as limitações do outro e juntos se adaptarem ao que os levarão ao prazer maior.

A idade madura é a idade certa, o momento exato de se “quebrar tabus”, deixar que aqueles desejos da adolescência, da idade madura que não foram realizados sejam agora “colocados a provas”.

É a hora de experimentar a audácia de praticar o ato sexual ou não, mas deixar que esta idade seja regada abundantemente pela prática da sexualidade.

Na idade madura é importante a cumplicidade, a conquista é fundamental, o interesse de ambos é necessário porque agora é essencial deixar a imaginação se tornar “menina ou menino” em um  corpo que agora é de homem e de mulher.

Sexualidade na idade madura é despir-se de preconceitos e vestir-se de sonhos, é aceitar as imperfeições do corpo conhecendo a perfeições de seus desejos.

Sexualidade na idade madura é magia, é bálsamo que restaura e que amplifica o ser permitindo que dois corpos possam se fundir se tornando no olhar de ambos uma só peça de prazer.

Sexualidade na idade madura é conhecer o poder do orgasmo diferenciado, é redescobrir novas maneiras de se chegar ao gozo recebendo e dando nova vida a velhos ou inexistentes toques já estavam tão esquecidos ou quiça “proibidos” entre os casais maduros.

É deixar-se levar pelo simples prazer de ter novamente o prazer de ter prazer é entregar-se nas mãos do outro o deixando conduzir para um mundo totalmente novo onde a imaginação é o limite.

Quando se tem interesse sexual se tem vida, quando existe prática da sexualidade existe criatividade, portanto não vamos deixar que o tempo nos roube os prazeres que nosso oráculo chamado corpo nos proporciona, Vamos viver.

Foi assim que então encerramos nossa seção, Sr. Paulo e Dona Laura voltaram algumas vezes mais para melhor compreender os caminhos da prática da sexualidade.

Pense nisso e que esta leitura seja o caminho de um novo tempo para todos os maduros física e mentalmente saudáveis.

Gilwanya Ferreira

CRP 04/42417

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