A solidão no meio da multidão Isso acontece também com aquele que tem mais de 60 anos

“Então um dia eu parei diante de uma multidão de gente que passava de um lado para o outro, eu fiquei ali olhando cada um em seu caminho caminhando seu traçado sabendo aonde ir, porém eu não, eu não sabia qual rumo tomar, eu não tinha “uma estrada definida para seguir” eu apenas estava ali, parado diante do mundo vendo o mundo passar.

Estava tudo tão vazio, tinha tanta gente perto de mim, eu não conseguia enxergar, apenas via a multidão passar, meu corpo doía como se algo estivesse doente dentro de mim, meu coração descompassado me mostrava a dissintonia que eu vivia comigo mesmo, eu sentia como se eu estivesse desaparecendo de mim mesmo “…

A solidão é o grande mal da humanidade nos dias de hoje, a tecnologia, a evolução mundial das telecomunicações, a facilidade de termos o mundo todo ao nosso alcance nos fez nos perder em meio a tanta gente.

Solidão é um sentimento, um sentimento que se vive ao se sentir não mais pertencente a aquele mundo que se está vivendo. É um sentimento que se vive ao sentirmos que não mais estamos conseguindo nos identificar ou mesmo criar vínculos com aqueles que estão a nossa volta.

É aquele sentimento que nos faz perceber que estamos sós e que somos sós mesmo estando rodeados de pessoas, pessoas que podem ser ou não importantes nas nossas vidas.

A solidão não é uma característica exclusiva da idade madura, não, a solidão nos dias de hoje tem invadido vidas de várias idades, crianças que “vivem a solidão” da ausência dos pais que trabalham o dia todo, jovens que vivem seus dias “enfurnados” na tecnologia moderna, sem contato com o “mundo lá fora”, jovens adultos que lutam cada dia para alcançarem suas metas e seus ideias de vida correndo para “fazer fortuna” de uma “moeda” que pode deteriorar a própria vida. Adultos que “em seus mundos” chegam cansados e que não se dão conta que eles desaprenderam que a vida pode ser tão simples e boa como o abraço gostoso acompanhado do sorriso daqueles que amamos e que ensinamos a amar.

Pessoas que mostram nas redes sociais “uma falsa alegria” de um falso convívio social que também é vazio por ser  irreal e que com o tempo se transformará em solidão.

Não, este sentimento não é apenas daquele que tem mais idade, mais para este ser este sentimento tem mais significado, porque para o idoso a solidão pode ser maior, ela pode doer mais porque ele não “foi acostumado”, ele por longos anos de sua vida viveu rodeado de pessoas que simplesmente sentavam nas calçadas e conversavam olhando nos olhos uns dos outros enquanto seus filhos, familiares ainda crianças brincavam soltos correndo de um lado para outro.

Eles viveram um tempo que o tempo passava devagar, que a vida era feita para se viver compartilhando dias e noites, eles viveram uma época que “saber que o vizinho estava doente ou que ele receberia em sua casa “pessoas de fora”, que se preocupar com a bicicleta deixada na calçada ou que “chegou alguém desconhecido” na casa “do fulano” dentre outras coisas não era considerado como “fofoca” e sim como AMIZADE, como CUIDADO com aqueles que faziam parte da comunidade que viviam, era um “cuidando” não da vida do outro e sim um “CUIDANDO” do outro que era parte de sua vida também.

E agora todos vivem para si, casas fechadas, portas trancadas, corações blindados, ninguém confia em mais ninguém, a inveja, os olhares maliciosos, os verdadeiros mexericos hoje são artimanhas maldosas que agridem o outro com intenção de ferir e que consequentemente afastam aqueles que vivem mesmo um do lado do outro.

Para o idoso isto é muito forte, muitos não conseguem “acompanhar” esta “evolução contrária” do tempo e então se colocam, se posicionam na periferia da vida apenas olhando a vida passar, se isolam do mundo por não compreenderem porque os filhos ou aqueles com quem convive o recriminam tanto ao vê-lo comentar que sentado na varanda viu alguém estranho entrar na porta ao lado, não entendem porque vivendo em “um caixote” onde portas são posicionadas uma diante da outra não se pode conhecer quem são.

É, é o mundo atual, um mundo que está adoecendo, um mundo ganancioso que faz do ser humano “animais” que vivem suas vidas apenas para conquistar “a presa” que precisa para ser devorada, um mundo que está deixando humanos amontoados que não conseguem se olharem ou que se olham não conseguem se enxergar.

Casais que se separam porque não entendem que o amor construído com sabedoria não se pode ruir como o castelo que caiu que conhecendo o poder que a vida tem não se conhece outro sentimento a não ser o da alegria de se conviver convivendo intensamente.

Nesta etapa da vida o idoso se torna alguém mais vulnerável a sentir solidão, pois além de tudo que mencionei eles nesta etapa da vida começam a sentir medo, um medo inexplicado de ser julgado e ainda caminham ao lado de muitas perdas, muitos afastamentos que podem ser fatais em suas vidas.

Eles perdem a confiança, eles perdem pessoas queridas, eles ganham doenças características da evolução da vida, eles se deparam com a degeneração do seu próprio corpo, eles perdem suas próprias independências. Eles ganham outros tantos tropeços, tantas vicissitudes que a própria vida vai lhes presenteando ao longo dos anos e de repente eles se vêm sozinhos, sozinhos numa solidão que vai se alastrando pouco a pouco sem que eles se deem conta da imensidão deste “mundo” que eles agora estão, este mundo chamado solidão.

Claro que aqui não estou generalizando, existem outros tantos idosos que não somatizam tantas instabilidades da vida, que enfrentam seus dias de uma maneira bem sutil e que levemente levam seus caminhos sutilmente com suas características peculiares, porém a intenção aqui é enfatizar a solidão, a solidão do idoso, a solidão de um ser que ainda precisa caminhar e que a sua maneira grita por um lugar, um lugar que ele quer estar e confortavelmente permanecer.

Um mundo que eles reconhecem que mudou, mas que ainda tem o aroma do passado e que carrega as recordações vividas. Um mundo que muitos associam a impiedosa solidão a fatores que vem de fora e que “culpam” a modernidade ou a falta de alguém a aquilo que hoje vivem. Idosos que também conseguem entender que tudo passou, que não pode mais voltar, que a vida segue, mas eles não têm forças para lutar e ai a solidão chega para ficar.

É preciso compreender e ajudar, a solidão tem como “sarar”, é só aprender e aceitar que alguém pode amparar, é preciso lembrar que existe uma fé que pode modificar, é preciso lembrar que também que a psicologia pode lhe transformar.

É necessário reaprender que o amor muda tudo, muda o rumo deste sentimento e que em primeiro lugar é importante se amar, o amor próprio tem força ele é aquele que chega quando há o reconhecimento diante da vida como somos alguém que ainda temos valor não apenas para o outro, mas acima de qualquer outra coisa para nós mesmos.

É preciso compreender que ainda existe uma estrada florida onde todos ainda valorizam uns aos outros e que o “cuidado” não vai ser “julgado e nem condenado”.

O idoso que sente solidão precisa fortalecer-se através do “descobrimento”, entender a causa, de onde ela vem, se ela vem do medo ou a desilusão, se da timidez ou do luto, se da angustia ou da depressão, seja de onde for ele precisa apenas aprender que se algo não anda bem é necessário compreender e compreendendo logo vem a força para “lutar”, que esta compreensão fará  com que tudo fique mais simples e que a vida poderá ser seguida sem a necessidade de se isolar e sem a necessidade de sentir o desejo de preencher seus vazios porque estes vazios não vão mais existir, cada pessoa será um ser suficientemente capaz de preencher-se como bem quiser, sem as preocupações outrora vividas e daí a solidão não vai mais dominar.

Pense nisso.

Gilwanya Ferreira

CRP 04/42417

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