A grandiosidade de nossas memórias Lembranças

Então eu estou sentada em uma mesa de um bar sozinha, sozinha vendo o tempo passar tomando algo e de repente em uma estação qualquer de uma rádio qualquer uma música começa a tocar, eu não estava ouvindo aquela rádio,  até aquele momento eu não ouvia nenhuma música tocar, parecia que meus ouvidos não queriam ouvir, foi então que “aquela” música entrou no ar, juro que eu não estava ali ouvindo nada, eu nem percebi que havia música no ar, mas aquela música forçosamente entrou nos meus ouvidos e me fez chorar.

Eu não queria chorar, eu estava ali por nada, apenas vendo o tempo passar, mais chorei, minhas lágrimas sem que eu permitisse rolaram molhando todo meu rosto sem que eu conseguisse dominar aquele sentimento…

Tudo voltou naquele momento, todo sentimento que estava sei lá “guardado” em algum lugar voltou apenas por eu ouvir de novo aquela música que um dia fez tanto significado em minha, em nossas vidas, hoje não mais em nossas…

Eu envergonhada, já uma mulher madura, chorando em um lugar público, não consegui, chorei, deixei meu sentimento tomar conta do meu ser e me reportei às lembranças vividas, as promessas prometidas, aos sonhos que sonhamos juntos e que vivemos. 

Vivi os sonhos que não conseguimos realizar, cada detalhe, cada detalhe me fez voltar ao passado e como em um passe de mágica me reportou ao meu estado de “mocinha” sonhadora amando e imaginando uma vida colorida com flores em toda estrada que iríamos percorrer, eu voltei ao tempo enquanto o tempo permitiu que aquela música tocasse meu coração.

Eu vivi esta emoção e tenho certeza de que não fui a única a vivê-la e muito menos será a última vez que este fato acontecerá em minha vida.

Lembranças são partes de nossas histórias são elas que formam a forma de “escrevermos” nossas vidas. Lembranças que ficaram “marcadas” no tempo que o tempo deixou passar e de certa forma nos fazem lembrar, ficam ali, ali, guardadinhas em um baú qualquer de nossa memória esperando o momento certo de ser aberto e novamente ser vivido.

Claro, claro que não serão apenas momentos que nos vão fazer chorar e que este “choro” seja de tristeza, nem eu sei expressar se chorei de tristeza ou de alegria de recordar, apenas deixei minha emoção se manifestar, lavar minha alma e me deixar novamente navegar.

Aquelas memórias me permitiam naquele momento ser “a menina”, ser alguém que um dia fui, porque memórias não envelhecem, elas nos permitem ser o que queremos ser, elas não querem que envelheçamos, elas, estas doces ou amargas memórias estão ali, poderosas nos levando por um simples gatilho onde o tempo um dia eternizou.

Estou falando de músicas, mas quem nunca se emocionou ao reencontrar um amigo de infância anos e anos depois? Quem nunca parou para observar a casa que um dia morou e ficou ali imaginando, revivendo as brincadeiras de criança, os natais que ali passou? As festas comemoradas, os pais chamando pele nome ou momentos naquele quintal?

Quem não se envergonhou quando chorou vendo um filme na Tv deportando-se a um tempo vivido que às vezes não conseguiu viver?

Quem nunca “um dia parou no tempo” relembrando fatos ao olhar para fotos que amareladas estavam “perdidas” em alguma gaveta?

Quem não quis novamente reviver a festa de aniversário que tanto significou?

Foram momentos, exatos momentos de nostalgia que nos transportam para lembranças que significaram momentos em algum lugar daquele passado que naquele exato momento insiste voltar.

É, são as lembranças que às vezes maltratam, mas que também confortam nossos corações, que nos fazem garotos e garotas inconsequentes e que não nos deixam crescer, são as lembranças que carregam nossos filhos à meninice e as peripécias da infância. São as lembranças que alimentam e que nutrem nossas vidas com momentos revividos.

São elas que nos fazem emocionar, mexem com todo nosso sentimento e comportamentos fazendo-nos escancarar nossas emoções num frenesi às vezes tão peculiar.

São elas as lembranças, lembranças de um ser que carrega nos seus 60 anos, nestes anos vividos, momentos especialmente vividos, momentos de alegria, dor, medo, incertezas, conquistas, vitórias e sucessos que formaram hoje quem sou, quem me tornei. Lembranças…

Lembranças das histórias ouvidas contadas pelo meu doce José que me faziam estremecer pelo suspense dos fatos contados, lembranças dos pratos esmaltados recheados daquela comida simples, saborosa e tão cuidadosamente preparada. Lembranças…

Lembranças das amigas que esperavam nas portas para juntas irmos à escola, lembranças das brincadeiras, do sabor da infância, das casinhas construídas dos guisadinhos preparados com gostinho de criança, lembranças das bonecas especialmente da minha inesquecível Viviane.

Lembranças, lembranças da adolescência, dos olhares perdidos imaginando um doce amor, do primeiro olhar que se cruzou, lembranças do primeiro beijo que se doou.

São lembranças, lembranças que a memória aguça enquanto o tempo faz este mesmo tempo passar, lembranças que como o vento, leva e faz nossa imaginação pensar.

São elas, as lembranças na idade madura que fortalecem os vínculos, que aproximam os que estão distantes, que acalmam e aquietam aqueles sentimentos, que conseguem fazer curar a dor e viajar para “aquele lugar” e eu tenho certeza que estas mesmas lembranças um dia quando eu não mais aqui estiver alguns outros tantos de mim vão se lembrar.

Lembranças…

Pense nisso

Gilwanya Ferreira

CRP 04/42417

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