A infantilização do Idoso

Refletir sobre os diferentes tipos de violências que se comete contra as pessoas idosas será o tema de hoje.
Existe uma violência pouco divulgada que se chama violência implícita, que é profundamente nociva, pois neste tipo de agressão os idosos de certa forma são “preservados” de situações com as quais teriam condições, inclusive emocionais, de lidar, mas não conseguem, pois é considerada uma violência pelos familiares, cuidadores, amigos, etc. e desta forma pensam como se estivessem  “poupando” seus idosos então, passam a depreciá-los, menosprezando sua capacidade de administrar problemas e conflitos”.

Neste caso não estamos nos referindo aos idosos vítima de perturbações mentais que não conseguem mais interferirem em suas capacidades de julgamento, como, por exemplo, Alzheimer em grau avançado e sim a infantilização do idoso consciente, uma forma de agressão implícita que fere profundamente sem que percebamos. 
Podemos dizer que existe algumas formas de infantilização do idoso tais como: negar ou rejeitar seu envelhecimento: é quando os familiares ou o meio em que vive passam a enxerga-los como sendo incapazes de tudo, e não aceitam suas limitações, normais para a idade. Outra forma não menos agressiva é quando também os familiares ou os adultos que convivem com a pessoa idosa os consideram como incapaz e debilitados, tanto físicos como mentalmente, tratando-os quase como se fosse uma criança pequena, no que diz respeito aos horários de banho, passeio, refeições, gostos, desejos, etc.
“Obrigar” um idoso a mudar de sua própria casa é apontar sem palavras a incapacidade de administrar sua vida, é desrespeitar seu desejo de permanecer em seu lar e mesmo que a intenção seja “o bem estar e a comodidade deste idoso” está também é uma forma de infantilização.
Quando este idoso ainda está consciente de suas atitudes os seus desejos devem ser respeitados, o que precisa ser feito é uma discussão entre os familiares e o idoso em questão para que juntos possam chegar a um consenso adequado e que seja conveniente para todos.
Leva-los para casa de familiares com os quais não estão muito habituados, ou a uma instituição, sem levar em consideração seu desejo estamos agredindo seus sentimentos implicitamente, essa é uma forma de violência velada: a família toma decisões pelo idoso, manipula-o, retirando do mesmo o direito de expressar o que deseja.
Essa imagem do idoso semelhante a uma criança sempre ocorreu, por isso mesmo é difícil de ser percebida, tanto pela própria família como pela pessoa idosa, pois, são vistas como algo muito natural vindo de pessoas que “os querem bem”.
O abuso contra o idoso pode acontecer, também, dentro das instituições, tanto particulares como públicas, e geralmente são exercidas por pessoas que são remuneradas para prestar serviços, como cuidadores, profissionais ligados à enfermagem, vigilantes, responsáveis pela administração e limpeza, etc. Nesse caso, as violências vão desde o excesso de limitações até as falhas na medicação (para menos ou mais), desumanização, infantilização, agressão verbal, entre outras.

Não importa onde sejam exercidos: se dentro da própria família ou em instituições, os efeitos da violência são os mesmos. Ou seja, idosos vítimas de violência desenvolvem apatia, medo, baixa autoestima, depressão, isolamento social e agravamento da dependência, entre outras consequências.
O Estatuto do Idoso, publicado em 2004, afirma que “é obrigação da sociedade (portanto família e instituição) assegurar à pessoa idosa a liberdade, o respeito e a dignidade, como pessoa humana e sujeito de direitos civis, políticos, individuais e sociais, garantidos na constituição e nas leis” (Capítulo 10)
Não necessariamente precisamos negar o envelhecimento, nem é necessário que se faça isso, mas que se aceite as limitações da idade, buscando criativamente soluções para o que ainda pode ser feito, no tempo que ainda resta. 
Para que não aconteça este tipo de violência, seria importante rever os tabus que colocam o idoso em situação passiva, de quem só serve para relembrar o passado, que são todos inúteis e que já não conseguem mais fazer qualquer que seja a atividade.
Incentivar suas capacidades apoiando-os em suas decisões, ouvindo-os quando os mesmos contam e recontam suas lembranças, diferentemente do que pensamos só servirá para ajuda-los a afastar a ansiedade, a angustia e até mesmo a depressão, pois são nestas lembranças que eles se sentem os “protagonistas de suas vidas”, gerando mais vida na vida que lhes restam.
O profissional da psicologia do envelhecimento, o Psicogentontólogo, nestes casos ajudará os familiares, cuidadores e ajudantes das instituições na conscientização dos mesmos quanto a necessidade de uma mudança de comportamento para com o trato do idoso em questão, orientará uma forma mais humanizada de tratamento e consequentemente um bem estar diferenciado.

Ajudará o idoso identificar quando esta sendo infantilizado, orientando através de técnicas especializadas o quão são importantes tanto para suas famílias quanto e principalmente para com eles mesmos.

Através das técnicas de reforçamento positivo mostrará um meio afável de se obter uma melhor qualidade de vida e consequentemente um bem viver totalmente diferenciado.
É importante prestarmos atenção em nossos idosos, pois qualquer que seja a mudança de comportamento e de atitude pode significar que “algo não esteja bem” e nossa vigilância e respeito pode fazer a diferença.
Pense nisso.

Gilwanya Ferreira

CRP 04/42417

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