15 de junho Dia da conscientização contra os Maus tratos contra os idosos

Quando pensamos em maus-tratos o que nos vem ao pensamento são as violências físicas pela qual uma determinada pessoa pode exercer sobre outra.

No entanto, existem outros tipos de maus-tratos, maus tratos que aqui chamamos de “maus-tratos sutis” que são aqueles praticados em algumas ocasiões, em determinadas situações em que não nos damos conta da gravidade em que aquele que é mau tratado é afetado.

Maus tratos sutis são aqueles ataques encobertos aos quais não se costuma haver reação porque a agressão não é tão direta, ou pode até ser que a intenção não seja de causar dano. No entanto, por serem constantes elas vão destruindo a autoestima e a confiança em que o idoso tem para com os outros e principalmente para consigo mesmo.

No caso de idosos estas “agressões sutis” são fatos relevantes e dignos de atenção, pois nesta faixa etária da vida além de todos os problemas que o sujeito vive, sofrer com tais agressões é algo totalmente inaceitável.

Tais maus tratos podem ser exercidos pelos próprios familiares que em alguns casos cuidam de seus idosos “por obrigação” por não terem condições financeiras para conseguir ajuda de um cuidador ou mesmo de uma instituição, porém, estes mesmos maus-tratos também podem vir de cuidadores, enfermeiros, atendentes de instituições ou lares, de amigos, dentre outros, normalmente chegam de pessoas diretamente envolvidas com idosos e que dizem amá-los e agem de tal forma “por cuidado e amor”.

A explicação abaixo servirá para identificarmos com mais clareza o que podem ser os tais “maus-tratos sutis”.

No quesito pessoal, vida diária:

– Imagine um idoso que já com dificuldades motoras ainda tenta com toda sua garra fazer suas refeições sozinhos, tenta comer com os talheres adequados, aos quais está acostumado, este sem intenção, mas devido à suas dificuldades, espalha comida por todo lado da mesa, derrama líquidos ou mesmo se suja, molha suas roupas, a toalha de mesa e o chão.  

Toda vez que este deixa cair algo é recriminado negativamente, caso deixe algo cair e quebrar é imediatamente julgado como incapaz e logo vem uma ajuda, mas não com o intuído de estimulação e sim de recriminação exemplo:

“VOCÊ JÁ TEM AS MÃOS MOLES.

TER AMIZADES? UMA NAMORADA? QUE RIDÍCULO, ISTO NÃO É PARA SUA IDADE.

PRESTA ATENÇÃO, ESTÁ DORMINDO.

NÃO CONSEGUE MAIS FAZER NADA.

DEIXA, TE DAREMOS COMIDA NA BOCA.

NÃO AGUENTAMOS MAIS TANTA SUJEIRA”

OUTRA VEZ ESTE ASSUNTO? NÃO AGUENTO MAIS OUVIR, JÁ CONTOU MIL VEZES.

No quesito financeiro:

“VOCÊ ESTÁ CADUCANDO, COMO PÔDE PAGAR “x” POR ESTA BLUSA?

VOCÊ! “NÃO! NÃO PODE MAIS FAZER COMPRAS SOZINHO, TEMOS QUE ACOMPANHA-LO PARA QUE NÃO TE PASSEM PARA TRÁS”

Nos cuidados pessoais:

“VEJA, NEM CONSEGUE MAIS SE LIMPAR SOZINHO.

NÃO PARECE QUE TOMOU BANHO, ESTÁ COM OS PÉS MUITO SUJOS”

VOCÊ ESTÁ FEDENDO XIXI, NÃO CONSEGUE MAIS SE LIMPAR?

NEM CONSEGUE MAIS PENTEAR SEUS CABELOS, ESTÁ MUITO FEIO(A).”

Estes são apenas alguns comentários feitos “despropositamente” e muitas das vezes sucessivamente em qualquer situação do dia-a-dia até que com o  passar dos dias este sujeito, o idosos em questão começa a acreditar que realmente está mesmo impotente de suas próprias atitudes e atividades e deste instante em diante ele passa a não acreditar em si próprio e em sua capacidade de adaptação à nova realidade e nas dificuldades corriqueiras normais desta etapa da vida então,  ele começa a comparar-se consigo próprio em idades mais jovens e nesta comparativa começa a perceber mais claramente sua incapacidade.

Na medida em que os dias vão passando e que estes rótulos são ainda mais reforçados pelos familiares, cuidadores, etc. que usam de forma desajeitada e algumas vezes avoada ou até intencional justificando suas intenções em relação às incapacidades que os idosos vão adquirindo de fazer o que quer que seja  começam a calcificar mais e mais  a ideia de que ele, o idoso  é mesmo um incapaz, que ele está se tornando  alguém que após ter alcançado uma etapa da vida não servirá para mais nada chegando ao ponto  de não mais acreditar que ele seja capas de realizar qualquer atividade a ele confiada seja ela qual for, seja mais simples que seja.

Estas atitudes nada mais são do que “MAUS TRATOS SUTIS”, o que leva o idoso a desenvolver grande insegurança, baixa autoestima, isolamento social e até quadros de ansiedade, angústia e depressão.

É importante saber, ressaltando que este tipo de comportamento é muito comum em nossa realidade, e que é muito difícil reagir diante deles, devido a tanta sutileza. São coisas pequenas que, ao se converterem em persistentes, acabam ferindo, chegando ao ponto de fazerem quem que os idosos se tornem alguém completamente indefeso.

O principal problema dos maus-tratos sutis é que as pessoas que assim agem não veem problema nenhum em suas palavras e ações. O que para eles é uma “brincadeira” ou uma forma de ajuda, para os idosos é uma clara ofensa.

É fundamental que aquele que reconheça tais atitudes aja em defesa do sujeito em questão respeitando sua integridade e subjetividade, não permitindo que tais atitudes continuem.

O esclarecendo nesta questão é fundamental, mostrar as diferentes atitudes para aquele que mesmo inconsciente dos danos que possam causar praticam os maus tratos sutis é fazer com que ele entenda que mesmo com dificuldades o idoso é capaz de tomar certas atitudes em se tratando de seus cuidados pessoais e que caso seja necessário o mesmo pedirá ajuda e assim, ele próprio reconhecerá suas restrições não afetando sua autoestima.

Precisamos lembrar que existem vários tipos de idosos, que ao longo da vida cada um, dentro de sua cultura, subjetividade e costumes familiares desenvolvem características exclusivas e mesmo sendo considerado “um velhinho bonzinho, um velhinho ranzinza, ou um velhinho implicante, ou quem sabe aquele desatento e desorganizado” cada um tem sua bagagem de vivencia e que com suas peculiaridades eles podem ser tratados com igualdade e respeito, porém entendendo também que não é o fato de ser idoso que o dará “direitos” diferenciados dos demais uma vez que sua condição mental, psicológica e física estejam preservadas.

O profissional da Psicologia do Envelhecimento, o Psicogerontólogo nesta hora é importante para ajudar o idoso a identificar e proteger-se diante de tais atitudes.

O Psicogerontólogo trabalhará com técnicas adequadas que ajudam na mudança de comportamento e de hábitos que vão fortalecer e facilitar a vida e o dia-a-dia do idoso e, assim evitar ansiedade, angustia e até mesmo a depressão e naturalmente como consequência de um trabalho consciente melhorar a qualidade de vida e o bem viver de cada um.

Pense nisso.

Gilwanya Ferreira

CRP  04/42417

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