O sentimento virtual na idade madura Pode existir? Há algum perigo? Como devemos lidar com esta nova maneira de se relacionar?

Jéssica tem 60 anos e a 4 anos está viúva, nos primeiros dias a tristeza assolou seu coração de uma forma brutal que a fez entrar em um estado de depressão avassalador.

Seus filhos já casados fizeram de tudo para que Jéssica pudesse sair desta situação tão deprimente e reencontrar a alegria de viver.

Convidavam amigos para os fins de semana se reunirem em suas casas, a levavam ao cinema, almoços, festas etc., mas nada fazia com que Jéssica se alegrasse outra vez. Jéssica vivia o luto pela perda de seu grande amor.

Os anos foram passando e uma amiga de Jéssica a convidou para participar de um projeto para pessoas a partir dos 60 anos que incluía além de bordados, patchwork, culinária, artesanato em geral, a informática.

Jéssica se animou e matriculou-se na informática e pouco a pouco foi se familiarizando com as novas formas de comunicação.

Augusto, seu filho percebendo seu entusiasmo aproveitou o dia das mães e a presenteou com um lindo e moderno notebook. Jéssica ficou muito feliz, pois agora poderia praticar suas aulas em casa no seu tempo livre.

Entretida ela passava horas diante do seu novo “brinquedo”, nem via mais o tempo passar, pouco a pouco foi voltado à sua normalidade e descobrindo sempre coisas novas naquele mundo tão dinâmico que a informática conciliada à internet podia lhe proporcionar.

Uma tarde quando o curso já estava quase no seu encerramento Jéssica se “atreveu” entrar nas salas de bate papo influenciada por uma amiga, esta já frequentadora assídua deste mundo lhe deu “todas as dicas” de como agir, quais os assuntos mais interessantes e assim foi.

Jéssica mergulhou pela primeira vez neste mundo virtual e log-logo com seu novo nome nick se deslumbrou e ao mesmo tempo se assustou com tudo que estava lendo, foi convidada algumas vezes para “abrir a cam”, foi lhe enviado palavras de baixo calão e também doces conversas e agradáveis assuntos, tudo monitorado pela sua amiga, ali do lado dando todos os detalhes de como agir.

Jéssica foi a cada dia se sentindo familiarizada com aquele mundo e quando se sentia “sozinha” entrava nas salas e conversava (teclava) quando encontrava um bom papo, horas a fio.

Numa tarde de domingo depois que se despediu dos netos e dos filhos voltou para casa e no impulso resolveu entrar nas salas. Sala 11, 60/70 anos, dia 04/04/ ela imediatamente ouve o chamado, Max 62 anos, vivendo em Florianópolis, divorciado, três filhos independentes, aposentado.

O papo deslanchou, não podiam mais parar, assuntos em comum, respeito e admiração por cada detalhe. Jéssica pela primeira vez estava “encantada”, suas afinidades eram tremendamente similares, seus gostos, sabores, ideias e ideais se comungavam perfeitamente naquele “grande encontro” e ali naquele mundinho, Jéssica ficou por 3 horas até que eles precisaram se despedir. Sem explicação Jéssica não queria “perder o contato” com o Max, e a recíproca foi verdadeira, então eles combinaram um novo encontro no dia seguinte à tal hora na sala 30 ou na ordem decrescente simultaneamente às 18 horas.

Encontros e encontros foram marcados desde aquele dia, horas a fio Jéssica e Max papiavam naquele mundo tão novo para ela, ela de alguma forma estava renovada, a tristeza já não mais fazia parte de seus dias e o sorriso largo e fácil saia de seus lábios.

Jéssica como precaução contou para seus filhos sobre Max, que era um amigo virtual que até então não haviam se visto, claro, todos ficaram chocados, com medo de tantas maldades que há neste mundo, avisaram, preveniram, mas Jéssica também já havia tomado conhecimento deste lado cruel do mundo virtual. Ela ouvia na Tv, lia muito sobre o tema etc, mas de alguma forma ela não queria mais parar de conversar (teclar) com o Max.

4 meses se passaram e então eles resolveram pela primeira vez “abrir a cam e se “conhecerem” Jéssica precavida, posicionou-se em um lugar discreto de sua sala e aceitou o convite, a câmera foi aberta e como em um passe de mágica os olhos de Max encontraram os olhos de Jéssica, o sorriso não se conteve e a alegria da imagem vista por ambos não pode ser contida, tudo estava sendo muito real.

Jéssica “bem posta” diante da câmera se sentia como uma adolescente, seu coração pulsava ao ver o sorriso de Max estampado nos teus lábios, tudo era para ela magia. Seu encanto ainda era maior pelo comportamento daquele homem que, da sua idade, não a desrespeitou em momento algum, não a “fez nenhum pedido” obsceno como ela sempre lia naquelas salas, Max se destacou pela integridade.

Mas, era um mundo virtual, tudo poderia ser “golpe” ela ouviu dos filhos, da amiga que lhe ensinou sobre a salas que ficasse ainda mais atenta, porque ele poderia estar “preparando” terreno para “dar o bote”.

Algo dentro de Jéssica mostrava que não, que Max não era como muitos, e assim como ela, ele também entrou nas salas porque queria encontrar um bom papo, alguém inteligente para passar as horas de solidão.

5 meses, Jéssica e Max agora só conversavam pela cam, não mais digitavam nada, eram risos sinceros, cafezinhos degustados, almoços preparados, tantos momentos “juntos” e então Jéssica se deu conta que 5 meses já haviam passado e nenhum dos dois sabiam onde viviam além das cidades de origem. Era um mundo mesmo muito diferente, todos os dias conversavam, abriam a sala combinada e longos papos rolavam, não tinha mais aquela coisa de medo, eles entravam para conversar, era isto e para Jéssica o mundo estava novamente se tornando colorido.

7 meses de conversas intensas, os assuntos entre os dois não esgotava, e então eles resolveram trocar os números do whatsapp pela primeira vez. A iniciativa partiu de Jéssica que encontrou nesta modalidade de comunicação uma praticidade maior no que diz respeito à agilidade dos vídeos etc. Max aceitou e imediatamente a sala foi fechada e eles começaram a conversar ali no celular.

Max a apresentou pela primeira vez para seus filhos, dizendo ser uma especial amiga, duas moças e um rapaz, casado, e uma neta, num almoço de domingo Jéssica se tornou “familiar”.

Tudo foi muito calmo, os filhos a tratavam muito bem virtualmente e em algumas situações ele a chamava por cam e a fazia “participar” de alguns eventos “íntimos” da família como, cantar parabéns para alguém, preparar alguma receita etc.

Jéssica conversou com seus filhos e também apresentou a Max sua família, tudo virtualmente, e até aquele momento nenhum dos dois haviam trocado endereços, parecia que não havia necessidade, tudo estava sendo tão lindo que saciava a ambos a necessidade de “ter alguém”.

Os meses passaram, algumas viagens eles fizeram “juntos” no virtual, ela narrando a ele tudo que via e com a câmera ligada ele trocava com ela todas as alegrias e esta realidade era simultânea e trocada com todo carinho entre os dois.

A amizade e o carinho foi se concretizando, Jéssica assim como Max não sentiam mais necessidade de entrar nas salas de bate papo por terem encontrado ali aquela pessoa tão especial.

11 meses se aproximava e Max então fez a primeira “proposta” à Jéssica, ele queria conhece-la pessoalmente e queria muito poder toca-la verdadeiramente. Ele queria ser real na vida de Jéssica.

O coração de Jéssica disparou, sua boca secou e num instante ela “se perdeu” diante de Max, não sabia lhe responder.

Todo aquele pavor das recomendações aterrorizantes lhe veio à cabeça, todos as afirmativas agora pareciam reais, “ele preparou o terreno” agora quer me conhecer para algo de ruim acontecer, este foi o pensamento de Jéssica.

Max paciente do outro lado da tela chamou lhe atenção: “Jéssica, o que houve?”

Sem saber o que responder Jéssica num impulso impensado desligou o celular e atônita não teve ação.

Manteve o celular desligado por horas e quando voltou a liga-lo havia muitas mensagens de Max, sem saber ao certo o que se passou, ficou deveras preocupado.

Jéssica nestas horas “afastada” refletiu sobre a possibilidade e então resolveu aceitar, impondo algumas condições se ele concordasse, ele realmente poderia ser alguém “do bem”.

Assim foi, marcaram o primeiro encontro na cidade de Jéssica e ele se hospedou em um hotel, ele viria de transporte público ou se em seu transporte em sua cidade ela o conduziria em seu carro, em sua cabeça ela estaria “protegida” e ele estaria “em seu território”.

O grande dia chegou, os corações saiam pela boca, Max como Jovem adolescente e Jéssica a mocinha, indo ao encontro daquele que a encantou.

Filhos avisados de ambas as partes, Jéssica foi busca-lo no aeroporto, o coração saia pela boca e na companhia de sua amiga elas riam e falavam sem parar até que as portas se abriram e Jéssica pela primeira vez avista Max e os olhares se pousaram na mesma magia virtual.

O abraço afetuoso foi inevitável, não havia mais barreiras de câmeras a separa-los, agora o toque das mãos era real e o cheiro das peles se fundiram.

Não havia dúvidas, Max “ocupou” o coração de Jéssica assim como Jéssica ocupava o coração de Max.

Risos, alegrias, planos etc… tudo de uma só vez eles falavam juntos, e a amiga de Jéssica participava estarrecida com tanta afinidade entre ambos.

Filhos apresentados, almoços no sábado e no domingo e a amizade entre eles se fortaleceu e agora se tornou real.

Combinaram outro encontro para 15 dias depois, agora Jéssica voaria até Florianópolis e conheceria a família de Max. (Convite estendido à família de Jéssica e a amiga que a acompanharia).

Os dias de Max na cidade de Jéssica passaram com muita rapidez e domingo chegou e ele precisava voltar. Jéssica o levou ao aeroporto e na despedida o primeiro beijo aconteceu.

Os dias passaram e o dia de Jéssica voar chegou, ela se preparou, sua amiga a acompanhou e outros momentos lindos e de surpresas Jéssica vivenciou.

1 ano e 5 meses, Max e Jéssica resolveram viver juntos, numa cerimônia linda e mágica como o encontro virtual dos dois eles leram os votos um para o outro e tudo que era virtual, real se tornou.

Hoje com uma família enorme, 6 filhos, 5 netos, genros e noras, Max e Jéssica vivem um conto de fadas, sempre viajando eles se completam e nas dúvidas e medos do passado eles construíram um castelo sólido e pleno de amizade, compreensão, cumplicidade e hoje de muito amor.

Esta história é real, relatada por uma paciente que pediu-me para  publicar na integra para afirmar em suas próprias palavras:

“Amigas e amigos virtuais e reais desta minha jornada de vida, eu Jéssica nunca poderia imaginar que comigo se passaria tantas aventuras e tantos momentos tão especiais como vivi nestes últimos anos.

Ter me matriculado nas aulas de informática foi uma decisão assertiva para minha vida que sozinha estava me ferindo a cada pensamento, ter aceito a sugestão de minha grande amiga de conhecer esta modalidade tão peculiar de conhecer pessoas foi sem sombra de dúvidas um caminho enviado por Deus, porque dentro de minhas restrições, de meus medos e anseios eu me coloquei na posição de respeito mútuo, (respeito você para ser respeitada também) e conhecer o Max verdadeiramente foi obra do Pai.

Sei que há grandes perigos, não resta dúvidas que infelizmente devemos nos precaver, sei que há pessoas maldosas que entram ali para usurpar da fragilidade de muitas (os) e acabam por causar sérios danos tanto moral quanto em outros sentidos às pessoas de boa fé. Então, eu particularmente digo que sim, há pessoas boas em todos os lugares, há pessoas más também, e como em um barzinho na sua cidade você pode “olhar” para alguém e gostar tanto e ser alguém que lhe fará bem, mas…o contrário também pode ocorrer.

Portanto, se deem ao direito, fiquem atentas (os) aos movimentos do outro, nas falas, nas contradições, na veracidade das palavras e na sinceridade de sua postura e nunca deem detalhes maiores quando não houver de verdade muita certeza.

Só marquem encontros reais em lugares conhecidos onde muitos sabem quem é você e não aceitem nada que venha do outro “real” enquanto tudo não for verdadeiramente concreto.

Comigo, Jéssica esta linda história aconteceu, conheci outras histórias tão mágicas quanto a minha, mas o contrário também já presenciei e várias vítimas caíram.

Deixo aqui através do “Nas ondas dos 60” blog que acompanho desde o primeiro texto meu relato para alertar que é possível sim, claro que é, estamos Max e eu aqui escrevendo a 4 mãos esta nossa história, querendo que todo encanto seja possível, que todas as alegrias possam ser construídas, dia a dia real ou virtualmente, mas que sempre reine a verdade, ( parcial no inicio claro)  e que quando houver mesmo afinidades que os façam tomar outros rumos que estas estradas também possam ser verdadeiras e tão firmes como a nossa.

Afinal, vivemos em tempos modernos e modernos também precisamos ser.

Deixo nossa gratidão

Max e Jéssica”.

Prestem atenção nos movimentos que se fazem ao seu redor, use a verdade com ponderâcia e a cautela como parceira e abusem da atenção e só assim  mergulhem sem medos nos momentos que a tecnologia podem lhes oferecer.

Gilwanya Ferreira

CRP 04/42417

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