Nosso Lado Criança

Nascemos, crescemos e nos tornamos jovens, adultos e idosos até que chega nossa finitude, mas será que precisamos esquecer a criança que um dia existiu dentro de nós? A criança que brincou tão levemente, que chorou tão ingenuamente, que deu gargalhadas tão felizes por motivos que nem ela mesma sabia por quê?

É, o tempo vai passando e nós não nos damos conta da importância que a infância é em nossas vidas, é neste período que aprendemos, que moldamos nossa personalidade e calcificamos comportamentos e padrões sociais e familiares que estarão nos acompanhando para todo o sempre.

Tornamos-nos adultos, sérios, responsáveis “cheios de padrões de comportamentos” que ao longo dos anos vai deixando para trás aquela criança “sapeca” risonha e feliz que um dia existiu, mas será que isto é bom?

Hoje é dia das crianças, um dia dedicado a todas as crianças como homenagem a infantil doçura de existir, a ingênua alegria de acreditar. E nós? Nós adultos que hoje somos não temos a capacidade de “sacar,” “arrancar,” deixar reflorescer a criança que existe dentro de nós?

Eu acredito que temos sim, até precisamos porque manter a criança viva em nós é o mesmo que deixar a vida mais florida ao longo dos anos, é amenizar com doçura os problemas que a idade adulta nos faz enfrentar.

Deixar a criança que existe dentro de nós existir para sempre não significa que precisamos ter atitudes infantis quando necessitamos ter responsabilidades de adulto, não, deixar a criança existir é apenas permitir-se, ser capaz de deixar as emoções fluírem, deixar a criatividade de criança aflorar nos momentos certos trazendo de volta a vontade de viver ainda mais.

É tão bom podermos brincar com nossos netos, com nossos sobrinhos, com nossos “netos do coração”, é tão gostoso quando podemos juntos soltar pipas, jogar bolinhas de gude e até se arriscar num joguinho de futebol ou num outro qualquer só para darmos boas e leves gargalhadas.

Qual vovó que nunca sentou com seus netinhos e brincou “de casinha”?

Quem nunca fez isso não conhece ainda o prazer dos olhinhos brilhantes. Qual vovô que nunca se permitiu jogar uma peladinha ou um jogo de queimada com seu neto também não conhece este prazer. Alegria que renova a alma e refaz a vida.

Sei que muitos de nós teve uma infância “sofrida”, sei que muitos de nós não aproveitou os dias de meninice porque precisou cuidar dos irmãos mais jovens, porque precisou ajudar em casa a mãe ou ir com o pai trabalhar desde muito jovem.

Sei que muitos de nós nem gosta de se lembrar da infância porque julga ter sido uma infância sofrida, eu entendo, mas permito-me aqui sugerir que seja em que idade estivermos hoje, seja em que situação estivermos hoje, se você tem a capacidade de estar lendo isto permita-se, deixe sua imaginação fluir, deixe que aquela criança se reaproxime e não permita que ela vá embora porque esta criança lhe dará condições de reconhecer a grandeza de ser quem você hoje é, sua integridade e sua maturidade.

Pouco hoje importa como foram nossas relações com nossos pais, quem nunca viveu conflitos também nunca saberá como eles nos fortaleceram. Quem viveu “em mar de rosas”, “em berço de ouro” tem que agradecer porque também muito aprendeu.

Então lidar com este lado criança se torna algo leve, transparente e gratificante por que então não se permitir?

Agora é tempo, tempo de deixar que aquelas situações mal resolvidas, aqueles traumas carregados a tanto tempo, fiquem para trás, para quê leva-los em sua “bagagem”?

Aproxime-se da criança interior e “peça ajuda”, a ingenuidade daquele serzinho adormecido vai te ajudar a ser mais leve a ser mais saudável a ser mais feliz.

Um adulto que permite deixar ainda existir dentro de si a criança ferida do passado carrega consigo medos e criticas que o farão pesados na vida atual, deixará que traumas distorcidos de sua própria imagem o feriem gradativamente não permitindo mudanças que tanto podem lhe fazer bem.

Uma criança ferida que se calcifica dentro de nós machuca, fere pelas mínimas coisas, pelas mínimas atitudes do outro e de si mesma, ela transporta um imenso pavor de ser “abandonada”, de ser “esquecida” em um canto qualquer e por um relacionamento qualquer e assim ela adulta que se fez será alguém amarga, “sem vida” que a qualquer momento muda de humor, se acosta em um canto qualquer apenas para se “esconder” novamente daquela criança que deseja arduamente florescer e precisa se desenvolver.

Quem na nossa idade não se lembra de como foi criado? Tenho certeza de que se fecharmos os olhos vamos voltar ao passado e ouvir nossas vozes internas dizendo frases que elogiaram e também frases que feriram, frases que nos impulsionaram e também que nos puxaram para trás. Eram nossos pais nos ensinando a viver, eram nossos pais com seus erros e acertos aprendendo a serem pais e nos fazendo filhos destes pais. Era o que precisava ser, então, porque não tirar desta grande vivencia hoje os pontos positivos que ainda estão claros dentro de nós e iluminarmos a grande criança que ainda ai está?

Vamos tornar grande nosso lado criança não só hoje, vamos permitir que possamos dar boas gargalhadas e se ainda dermos conta correr e pular amarelinha só para nosso fluxo sanguíneo correr mais livre em nossas veias, vamos olhar as cores do mundo, vamos ser nós adultos idosos com espírito doce de criança.

Não vamos permitir que não nos achemos suficientemente capazes de sermos imensamente felizes mesmo presenciando a dor do outro, não é egoísmo, é força, porque somente sendo forte que vamos conseguir enfrentar as vicissitudes diárias.

Não vamos permitir que comparações como: Que atitude infantil, você deveria ser, que falta de modos para um idoso ou outros tantos mais nos trague traumas que vão outra vez “guardar” a criança, esconde-la para sempre, não, não vamos deixar porque somos ainda a essência de todos que um dia fomos e de todas as experiências que vivemos.

Permita que sua criança interior se expresse quando necessário for, permita que ela também mesmo na idade que estamos tenha medos, tenha dúvidas, anseios e sonhos,  recorra-se ao seu lado criança quando a dor chegar e deixe-se ser abraçada por ela, esta criança ingênua que existe porque ela poderá a sua dor amenizar.

Não se negue ao direito de acolher “esta criança” que existe em você, deixe – a viver, comece a ouvi-la, dê atenção aos seus apelos porque estes não são mais que desejos de viver, de manter acesa a chama da vida e da longevidade de quem crê.

Acolher, acatar e entender a criança interior é simplesmente crer que podemos ser o que queremos ser quando queremos ser.

Deixe sua criança florescer.

Pense nisso.

Gilwanya Ferreira

CRP 04-42417

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