As redes sociais e a idade madura Como o idoso(a) vivi esta realidade

Entrei na sala 60/70 do Bate papo da Uol para ter um parâmetro do que vou escrever e me ajudar a entender melhor como é este mundo virtual das redes sócias.

Vamos lá,(nas redes sociais),  eu Sônia 61 anos, entrei alguns dias de dias quaisquer, encontrei, Homemrico87 e só, Empresáriodiv, Estrangeiro, Engenheiro, dentre outros tantos com nomes mais comuns… Wagner, Juca, Eduardo, Clovis, etc. Encontrei a Mônica 66, a Luana, a Maria, encontrei também a Beth 68, a MárciaMulher, a Uma coroa carinhosa ..outras tantas que infelizmente não tive oportunidade de conversar.

Meu assunto começou com um cordial Bom dia! Imediatamente recebi outros tantos, “Bom dia gatinha”, “bom dia!” “BOM DIA!!!” “Olá, como vai você”, ou “Oi gostosa” dentre outros tantos uns mais atrevidos outros mais pornôs e assim foi…

Respondi a todos e também meu cordial bom dia foi para estas mulheres que mencionei, algumas me responderam outras foram má educadas, outras não entenderam que era apenas um cordial bom dia e responderam que “to fora de mulher”… ai comecei meu questionamento: Será que todas estas pessoas que entram nas salas de bate papo estão mesmo cientes do que acontece neste mundo virtual e sabem os benefícios e também os malefícios que estes lugares de encontros virtuais nos trazem?

E foi ai que começou minhas perguntas:

O que você busca aqui?

O que você quer ao entrar nestas salas?

Você é casado(a)?

Vive onde?

Já conheceu alguém no mundo real que começou no mundo virtual?

O que mais interessante encontrou neste mundo virtual que lhe chamou atenção para continuar?

Acha que as redes sociais é um bom lugar para encontrar alguém?

Conhece ou você é alguém que encontrou um “companheiro(a)” “namorado(a)” que se tornou real?

Ninguém pode negar que as redes sociais foram criadas para facilitar a interação entre as pessoas de todo planeta.

Como uma pessoa que hoje aos 60 anos ou mais podia imaginar que chegaria um dia em que ela poderia se comunicar com pessoas conhecidas ou não em qualquer parte do mundo, do planeta terra apenas com um “clic” e que além de poder escrever, falar e ver?

Este perfil de usuários a cada dia está mais crescente e não se espante em saber que hoje alcança uma proporção maior do que a de jovens e jovens adultos.

Talvez até possa ser a “solidão real” a causadora desta invasão nas redes sociais ou quem sabe a modernidade com a sensata mistura do medo que hoje também avassala nossas vidas, não se sabe concretamente a causa.

Algumas pessoas utilizam as redes sociais “escondido” por sentir vergonha ou até mesmo por não querer admitir o uso, algumas outras criticam e quando questionadas não conseguem se explicar, fato é que as redes sociais chegaram para ficar, a cada dia estão mais avançadas e nos fornecem mais dados e possibilidades de interação entre os povos e então eu posso dizer que talvez os famosos críticos não tenham ou têm pouca sensibilidade para entender os benefícios que estas mesmas redes podem causar a população idosa.

Claro que, todo meio de comunicação tem seu risco eminente, não podemos negar, porém hoje sem pensar neste quesito (talvez tema para um próximo assunto) vamos nos focar nos benefícios, nos prazeres da comunicação e da interação entre pessoas da mesma idade que vivem num mesmo lugar ou em lugares diferentes.

Nas minhas pesquisas perguntei a vários usuários o porquê entrar nas redes sociais, além é claro das perguntas acima citadas, muitos me responderam que hoje, sozinhos com filhos criados que já não estão mais o tempo todo “no ninho” ou mesmo que já saíram de casa se sentem solitários, que muitas das vezes são pegos o dia todo sentados na frente da Tv assistindo noticiários ou filmes sem perspectiva alguma, apenas para passar o tempo e que surpreendentemente ao “aprenderem” a magia das redes sociais hoje trocam grande parte do tempo conversando com pessoas de todo mundo, cautelosamente se precavendo de possíveis transtornos procuram não se identificarem ou darem qualquer que seja dicas de sua vida pessoal (sabemos que toda regra há exceções, mas hoje estamos abordando o lado positivo).

É interessante a resposta da MárciaMulher quando lhe perguntei a idade, 66 anos e se ela já havia conhecido alguém das redes sociais e qual foi o método usado para chegar a este ponto.

Resposta da MárciaMulher:

“_ Sim, eu já conheci homens e também mulheres que saíram das redes sociais e hoje alguns fazem parte da minha vida real. O primeiro foi um tal José, o vi pela primeira vez na sala 15, ele quem me desejou boa noite a primeira vez, ficamos teclando horas em seguida, falamos de nossas vidas, tudo sutilmente colocado, ele se portando educadamente foi ganhando minha simpatia, eu que já não era assim mais “tão boba” porque sempre pergunto ao meu professor de informática sobre como me comportar nas redes sociais uma vez que foi ele quem sugeriu este espaço para interação entre pessoas da mesma idade me fazia de trouxa em algumas perguntas, desconversava mudando o tema, ele gentil nunca questionava nada, assim foi, marcamos outros encontros outros dias e dias, eram horas agradáveis que criamos entre nós. Um dia resolvemos “fazer um grupo” convidamos outras pessoas e para nosso espanto positivo criamos o grupo da sala 15, conversávamos de hora e dia marcados entre nós e sempre, sempre muito divertido, posso afirmar que dava boas gargalhadas com as “prosas” que lia até que um dia então resolvemos nos conhecer  pessoalmente, marcamos um almoço em um restaurante de uma cidade impar  em que todos podiam ter acesso mais fácil num dia de domingo.

Tudo combinado, hora, local, cidade, lá fui eu, não contei a ninguém de minha família para não causar espanto ou negação para com minha atitude, avisei a uma amiga e claro fui com outra, (o convite podia ser extensivo). Chegando ao local parecia (risos) um encontro da terceira idade (mais risos) e claro nos identificamos de cara diante as características que colocamos para tais identificações.

Não era um encontro amoroso para arranjar um parceiro, foi um encontro de pessoas que se conheceram nas redes sociais que queriam estreitar os laços na vida real e foi sensacional, rimos muito, nos demos bem mais uns do que outros (vi isso como na vida real), mas tudo foi perfeito e para aqueles que de verdade queriam este entrelaçamento trocamos nossos números de telefone e o convite para conhecer nossas cidades.

Hoje já se passaram 3 anos e cá ainda estou nas redes sociais, daqueles amigos do primeiro encontro ainda tenho alguns que fazem parte dos meus dias outros se foram como em qualquer amizade que se constrói não é mesmo?. Já fui a protagonista de outros tantos encontros no mesmo formato do primeiro e eu lhe digo, eu gosto de mais de estar aqui, passo momentos em que as horas voam sem que eu me sature dos minutos contados.”

Encontrei também nas redes sociais “velhinhos safados” homens que entram apenas para o desfrute de sua vida sexual, alguns por frustração de não mais conseguirem uma parceira, outros por privação, outros tantos sem explicação, mas entram e usam das redes com o que podem dar e oferecer à aquelas (es) que querem receber.

Encontrei mulheres também, não posso negar, foi o caso de uma delas, sem citar o nome, que aos seus 72 anos gostava de se exibir nas câmeras, “nos holofote” do prazer ela se esbaldava, sem escrúpulos me disse que usava de máscaras e roupas sensuais para seu prazer, expunha seu corpo sem pudores, mas nunca se identificava, ela ali era a gatona dos 70… 

Homemrico87, um exemplo a ser dito, com ele aprendi algumas coisas interessantes: – A abordagem inicial foi minha, Boa noite!,  Ele imediatamente respondeu-me BOA NOITE GATINHA, letras maiúsculas me chamou atenção afinal eu Sonia 61 anos para ele era mesmo “uma gatinha”. Identifiquei-me como pesquisadora e que estava ali fazendo perguntas para entender mais as redes sociais, perguntei se ele concordaria em me responder uma ou algumas perguntas, ele foi gentil e disse que sim apenas queria saber se realmente eu tinha 61 anos ou não, afirmei que sim e ele quis acreditar. (poderia ou não).

Primeira pergunta, porque o nick e qual a razão de expor que era um homem rico uma vez que as redes sociais infelizmente não eram tão confiáveis assim?  Respondeu-me que dizer ser rico chamava a atenção de mulheres “interesseiras” e que daí poderia surgir um papo agradável ou quem sabe até mesmo uma amizade. Disse-me que vive sozinho a 6 anos e que seus filhos (3) quase nunca o visitam, ele é viúvo e aprendeu a gostar das redes sociais quando resolveu aprender informática depois que ganhou de seu neto mais velho um laptop.

Uma colocação interessante do Homemrico87 foi o envolvimento nas redes pelo fato de ser sozinho e estar sozinho quase todo tempo a colocação foi que através das redes sociais ele passa boa parte do dia “divertindo-se” e colocou-se muito bem quando disse que mesmo estando nas redes sociais ele não deixa de conviver com outras pessoas “reais” ele tem momentos nas aulas de informática, ele faz hidroginástica etc.

Homemrico87 também me confessou que entra nas redes como “Antonio87” e que este perfil foi criado com fins culturais, uma criação dele, que convida algumas pessoas das salas para lerem “juntos” alguns livros e reunirem-se virtualmente uma vez por semana para discutirem sobre o tema, (achei o máximo esta ideia) cada um colocando sua interpretação sobre as páginas lidas pré-determinadas. Ele riu e disse-me: “-Menina, idoso também pode ser cultura” (risos) agradeci e despedi.

Outro caso interessante é o de Luana, ela disse-me ter 64 anos, ser casada, feliz no seu relacionamento de quase 40 anos, acomodada pelo tempo e condições encontrou nas redes sociais um subterfúgio para “suas angustias”.

Disse-me que antes chorava muito porque seus filhos não vivem mais com ela, seu marido com 65 anos ainda trabalha fora de casa condições estas que fazem com que ela esteja várias horas sozinha.

Ela também me disse que faz caminhada, que faz parte de um grupo de bordados na paróquia de seu bairro e que gosta muito de sair com o marido ou amigas, meu marido não me impede de ter uma vida social.

Disse que quando resolveu aprender informática, primeiro pediu ajuda a seu neto mais velho, comprou um computador e começou a “navegar” depois aprendeu sobre as redes sociais e hoje nela estreita laços virtuais de amizades que lhe são raras, conversa com homens e mulheres, (respeitosamente), já conheceu também algumas mulheres (não convida homens para conhecer pessoalmente) confessa ter criado laços estreitos de carinho, diz que não quer mais “outra vida”.

Diante destes e de outros tantos comentários que presenciei posso dizer que as redes sociais são sim favoráveis aos idosos que dela podem tirar proveito. As redes sociais fazem bem quando estes usuários sabem usar de toda liberdade que lhe é dada não só para seu bem, mas para um bem comum,seu prazer, ou um prazer comum, seja ele qual for.

As redes sociais estreitam sim laços de carinho, laços de compreensão e de amizade até mesmo sincera, mesmo que ela seja eternamente virtual.

Frequentar as redes sociais para aqueles que ainda podem é uma vitória nova a cada dia, porque a cada Bom dia ou Boa tarde ou até mesmo Boa noite, novos seres passam por suas interpretações, novas pessoas entram e saem de suas vidas.

Algumas reclamações são expostas, algumas lorotas são contadas, algumas cantadas são dadas, alguns “medos” sobressaltam, outros prazeres leves, risadas são livremente soltas no ar afinal, nas redes sociais podemos ser quem queremos ser, um jovem de 30 anos que ainda sonha com a leveza do amor, um empresário de sucesso que ainda administra grandes empresas aqui e fora do Brasil, um estrangeiro que aqui está de passagem e que quer conhecer alguém que lhe faça companhia, uma mulher com curvas acentuadas e que apenas gosta de homens mais velhos ou quiça a própria verdade de quem somos na vida real para que apenas possamos espelhar no que pode ser virtual.

As redes sociais não freiam os sonhos, elas estão ai, estão sendo usadas e abusadas a todo tempo por muita gente.

Qualquer hora do dia ou da noite que entramos encontramos salas lotadas de pessoas que buscam “alguma coisa” real ou não, mas que ali estão, o que é preciso como na vida real e ter escrúpulos quanto a extrema exposição de quem de verdade somos, pois como aqui, do lado de fora, nas redes sociais também existem pessoas más que se fazem boas apenas para usurpar da “inocência” do (a) usuário(a)  que às vezes fala (digita) um pouco mais de sua vida real. Cuidado é necessário.

Interar-se com o mundo é muito interessante e é também necessário, falar de temas que abordam todo planeta para um idoso é muito gratificante, pois aprendendo novos meios de se comunicar ele também pode ainda aprender e ensinar, ele pode apaixonar-se, chorar e rir, estimular a crítica e aprender a observar. O idoso que frequenta as redes sociais estimula a autocrítica porque consegue ver que em algumas frases expostas a vida não é tão “cor de rosa assim”.

Ele sabe que o passado ficou para trás, que não há mais condições de sentar-se à beira do fogão ou mesmo nas calçadas para conversar com os amigos como antes, ele sabe que a vida que viveu ficou no passado e que agora as novas formas de comunicação estão ai, prontas para serem usadas e que ainda é hora para eles desta vida participar.

Portanto, é isso ai as redes sociais, elas estão ai e são sim frequentadas pelos idosos, eles estão neste mundo real, mas fazem também parte do mundo virtual, eles sabem que não precisam deixar de frequentar o convívio real, eles sabem que a vida virtual pode sim ser integrada à real e que somente coisas boas podem surgir desta nova forma de se relacionar.

Pense nisso.

Gilwanya Ferreira

Psicóloga/Psicogerontóloga

Capacitada em sexologia clínica

CRP 04/42417

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