“Todos
nós, cedo ou tarde, vamos morrer. E só quem aceita isso está preparado para a
vida”
Paulo Coelho.
Em se
tratando de Brasil, estranhamente o tema morte é um dos temas que mais causam
constrangimento às pessoas de qualquer idade, falar sobre a morte ou mesmo
vive-la de alguma maneira é constrangedor.
Por que isso? Não deveria ser assim, todos nós morremos, e nem todos nascem,
esta é a verdade.
Porém, não é em todas as culturas que isso acontece, em algumas culturas a
morte é encarada sem sofrimento. Existem filosofias e até mesmo alguns modos de
vida em que a morte pode ser vista como um processo natural e muitas das vezes
esperado e quando acontece é inclusive comemorado.
Portanto, a morte também é um processo cultural, é uma questão de religião, de
educação familiar, do desenvolvimento emocional do sujeito, de como é encarada
a questão saúde x vida = morte e até mesmo as questões financeiras que envolvem
o acontecimento.
Para uma pessoa que é considerada idosa é mais “obvio” a finitude, no entanto quando
este tema é abordado podemos claramente notar que entre eles existem opiniões
divergentes assim como em qualquer idade e em qualquer tema.
Falar simplesmente sobre a morte para um idoso não é tão complicado, porém
dependerá de “quem seja” este idoso, dependerá de qual seja seu nível de
instrução, qual seja seu nível de cultura, sua nacionalidade, sua crença
religiosa, quais são suas condições de vida naquele período, etc. Várias são as
atenuantes que “mudam” a forma de opinião sobre a morte.
Para muitos a morte é vista como um fato que é mais comum quando se alcança uma
determinada idade, “um jovem não deve morrer”, está é uma das frases que mais
se ouve quando se menciona a morte como fato.
A idade madura é uma época de amadurecimento e as mudanças físicas são mais
visíveis, o processo de degeneração é mais acelerado, porém nem sempre este
processo interno pode ser notado, o envelhecimento externo é visto e muita das
vezes “sofridamente” vivido pelo sujeito que alcança esta idade.
Existem culturas que cultuam o amadurecimento do ser humano como uma “dádiva”,
algo que seja como “um presente”. Alcançam a idade madura aqueles que sabem
cultivar suas capacidades internas de absorção, de amadurecimento e que
conseguem surpreender pelas suas possibilidades de continuarem ativos,
conscientes e participantes.
O jovem que foi educado para encarar a morte com naturalidade chegará à idade
madura aceitando sua própria morte também com a mesma condição.
Não estamos citando aqui a questão do “sofrimento” da ausência do ser amado,
não, aqui estamos tratando a morte como algo natural da vida, o sofrimento da
ausência física acontece em qualquer situação “normal” de ausência.
Quando se chega a idade madura o “dever cumprido” facilita também a compreensão
e a aceitação da possibilidade de finitude, um ser ainda jovem tem “obrigações”
a cumprir em se tratando da sociedade que vive, precisa crescer, multiplicar,
trabalhar, conquistar seu espaço para que depois se pense na morte.
A influência da sociedade que se vive acaba por ser um padrão a ser seguido e
mesmo que para alguns idosos a angustia da “não obrigatoriedade” do cumprimento
das tarefas seja algo “doloroso” ainda assim é mais fácil, para eles não
existem mais a obrigação a serem cumpridas, as tarefas que cumprem não precisam
“agradar” a ninguém, portanto o medo da finitude ou não existe mais ou é bem
menor do que em se tratando de um jovem ou de um adulto.
Em pesquisas realizadas afirmamos que para muitos idosos o medo da
invisibilidade é maior do que o da própria morte, existir e não ser “útil”, se
tornar alguém “invisível” perante aqueles que convivem é muito mais triste que
morrer.
Vários depoimentos afirmam que o processo da morte muita das vezes é acelerado
quando o idoso não consegue mais ser útil e aqueles que o cercam passam a não
percebê-lo com ser humano deixando-o em um canto qualquer da casa inerte a
qualquer situação que aconteça.
A morte nestes casos passa a ser algo que acontece inclusive com o ser que
ainda vive, um idoso que se sente assim pode inclusive “acreditar” que já esta
“morto” e que apenas ocupa um espaço insignificante da casa.
Diante deste fato, a vontade de morrer é acelerada, acelerando o desgaste
emocional que desencadeia uma série de transtornos que acabam por ocasionar a
falência real do ser e consequentemente à morte física do mesmo.
Entender que uma boa morte é a consequência de uma boa vida deveria ser regra
entre os seres vivos, quanto melhor for a qualidade de vida, melhor será o bem
viver e consequentemente a morte será mais tranquila, com menos tensões e
impactos emocionais tanto para o moribundo quanto para os familiares que o
cercam.
Proporcionar um envelhecimento saudável com um nível de entendimento tanto
religioso quanto cultural pode ajudar também na compreensão da morte como algo
natural.
Apegar-se a uma cultura religiosa pode ser um fator tranquilizante para idoso,
acreditar que existe “um Deus” que o acolherá com carinho pode fazer com que a
hora da morte se torne algo mais sutil do que se prevê.
Não é incomum encontrarmos idosos que passaram toda uma vida sem nenhum
seguimento religioso e quando se aproxima da idade madura e a sensação de
finitude é clara o mesmo se apega a um Deus e “pede ao Pai” que lhe dê uma “boa
hora”, portanto a religiosidade tem um impacto determinante na vida do idoso.
Então, o que podemos dizer para concluir nosso pensamento de hoje é que mesmo
sendo um acontecimento menos tenso e doloroso para o idoso a morte tem suas
facetas que chegam a ser inerentes à compreensão do outro.
Cada um encara a morte de uma forma, sente sua dor de uma maneira única e mesmo
sabendo que em tese às vezes para o homem é mais difícil a perda de sua
companheira a morte acaba sendo um “sofrimento” inevitável para ambos e a dor
deve ser compreendida e acolhida por aqueles que ficam com respeito e
dignidade.
Pense nisso.
Gilwanya Ferreira
CRP 04/42417