Existia em um mundo não
muito distante deste que hoje estamos vivendo, outro mundo, um mundo calmo,
sereno onde os dias passavam devagarzinho, devagarzinho, sempre sem pressa de
acabar.
As pessoas caminhavam tranquilamente prá lá e prá cá, as mães cuidavam de seus
filhos e os pais saiam para trabalhar.
As pessoas envelheciam em
um só lugar, conheciam seus vizinhos pelo nome e sobrenome e acima de qualquer
outra identificação eram também identificadas pelas raízes que vieram Sr. Pedro
do João da Maria Souza, Dona Lia, filha da Dona Esmeralda da Dona Geralda do Zé
da Horta e assim as aldeias iam crescendo, nascendo crianças que também eram
raízes de suas raízes, todos se conheciam e nas tardes de sábado assim como nas
manhãs de domingo logo depois da missa a praça da cidade parecia festa, todos
se reuniam sentados nos banquinhos, os homens faziam grupinhos para falarem “da
bola” ou de alguma coisa do trabalho da semana, trocavam experiências e
dividiam expectativas às vezes de dias melhores.
As mulheres sempre atentas às brincadeiras de seus filhos pequenos conversavam
alegremente com as comadres e as vizinhas, reencontravam as conhecidas que
viviam mais distante de suas casas e alegres e falantes trocavam receitas novas
e falavam um pouco de tudo.
Aqueles mais jovens os rapazes e as mocinhas sorrateiros trocavam olhares e aqueles
“mais corajosos” se aproximavam para um dedo de prosa, sempre cuidadosos para
não deixarem os mais velhos “desconfiados” e descontentes de qualquer atitude
que pudesse “fugir à regra dos bons costumes”.
Este mundo existiu, existiu e não está tão longe assim dos dias que hoje
vivemos. Era um mundo cheio de esperanças, esperanças de dias melhores,
esperanças de dias de chuva para controlar a colheita do ano, eram dias de sol
para que a criançada pudesse na rua brincar, eram dias de festas na paróquia
que todos estavam convidados.
Havia música para alegrar
os corações, músicas que tinham letras que falavam de amor, falavam da vida que
como nos fados portugueses cantavam a emoção e às vezes misturavam a dor.
Sim, este mundo existiu, e hoje aqueles que têm o privilégio de manter a
memória “afiada” que completam seus 70, 80, ou mais anos, recordam com carinho
deste tempo e dele extraem contos que contam para seus netos e também para seus
bisnetos, um passado que passou e que na memória ficou.
Assim os dias se foram, sonhos que foram realizados, mas também outros tantos
sonhos que apenas foram sonhados, muitos que não puderam ser realizados.
Sonhos vividos que puderam ser realizados foram sonhos que foram
construídos com dignidade, vividos dia-a-dia e esperados com alegria,
expectativas, ansiedade sonhos que foram realizados com grande esforço e
paixão.
Foi um mundo em que hoje aqueles que eram mais jovens e que agora estão na
maturidade da vida se recordam, recordam de sua infância, recordam de sua juventude
e “neste mundo” às vezes estacionam com medo do mundo que hoje e que agora
vivem.
Um mundo violento sem regras, as músicas sem letras as letras que escrevem
pouco da melodia e muito da pornografia, pornografia sem medida, explicita sem
censura.
Um mundo individualista, um mundo muito capitalista, é o mundo que hoje nos
cerca, que faz aproveitando da tecnologia o conhecimento sem inteligência desta
gente que não sabe mais sonhar.
No entanto, sei que ainda temos recursos, muitos sonhos ainda para sonhar e
para aquelas que passaram dos 55 anos estes sim, devem acreditar que mesmo em
meio a tanta confusão ainda podem sonhar, sonhar com dias mais felizes onde
seremos nós os protagonistas de nossas próprias vidas, mudando as estórias
contadas e escrevendo as historias de quem somos nós.
Fazendo desta perspectiva um mundo melhor, vivendo o melhor a cada dia o melhor
de cada um de nós. Um melhor onde se possa encontrar nas peculiaridades a
originalidade e fazer da vida a melodia que ela precisa ser.
Esquecer na medida do possível aquilo que parece ser impossível, acreditar que
o amanhã se ele chegar você poderá sem hesitar ditar as normas para viver com
mais intensidade e maior sabedoria, hoje você pode, você tem o direito de ser
feliz e viver todos os sonhos que ficaram para trás. Sua idade permite você já
plantou você já fez algumas colheitas agora é sua vez, sonhe, reveja aqueles
sonhos que não puderam ser realizados, preste atenção se ainda valem a pena
coloca-los em algum lugar se você assim achar, faça acontecer e deixe a vida
novamente florescer.
Projete seu sonhos passados, realize-os com as medidas do presente, não permita
que a sensação estranha que talvez possa ter o nome de impotência tome conta do
seu ser apenas por estar permitindo-se realizar algo que a tanto tempo ficou
guardado, mas nunca esquecido na memória de sua vida, repito, faça acontecer,
permita-se viver.
Os medos farão parte desta nova caminhada, eles serão comuns nesta jornada,
para muitos terá nome de loucura, mas quem comanda sua vida agora é você e
ninguém melhor que você mesma saberá até onde pode chegar sem ninguém te
magoar.
Então, claro que ainda é possível, evidente que você pode e deve sonhar,
planejar, manipular, especular, idealizar… o importante é acreditar que você
é capaz…
Pense nisso.
Gilwanya Ferreira
Psicóloga CRP 04/42417