É POSSÍVEL AINDA SONHAR DEPOIS DOS 60 ANOS?

Existia em um mundo não muito distante deste que hoje estamos vivendo, outro mundo, um mundo calmo, sereno onde os dias passavam devagarzinho, devagarzinho, sempre sem pressa de acabar. 
As pessoas caminhavam tranquilamente prá lá e prá cá, as mães cuidavam de seus filhos e os pais saiam para trabalhar.

As pessoas envelheciam em um só lugar, conheciam seus vizinhos pelo nome e sobrenome e acima de qualquer outra identificação eram também identificadas pelas raízes que vieram Sr. Pedro do João da Maria Souza, Dona Lia, filha da Dona Esmeralda da Dona Geralda do Zé da Horta e assim as aldeias iam crescendo, nascendo crianças que também eram raízes de suas raízes, todos se conheciam e nas tardes de sábado assim como nas manhãs de domingo logo depois da missa a praça da cidade parecia festa, todos se reuniam sentados nos banquinhos, os homens faziam grupinhos para falarem “da bola” ou de alguma coisa do trabalho da semana, trocavam experiências e dividiam expectativas às vezes de dias melhores. 
As mulheres sempre atentas às brincadeiras de seus filhos pequenos conversavam alegremente com as comadres e as vizinhas, reencontravam as conhecidas que viviam mais distante de suas casas e alegres e falantes trocavam receitas novas e falavam um pouco de tudo. 
Aqueles mais jovens os rapazes e as mocinhas sorrateiros trocavam olhares e aqueles “mais corajosos” se aproximavam para um dedo de prosa, sempre cuidadosos para não deixarem os mais velhos “desconfiados” e descontentes de qualquer atitude que pudesse “fugir à regra dos bons costumes”. 
Este mundo existiu, existiu e não está tão longe assim dos dias que hoje vivemos. Era um mundo cheio de esperanças, esperanças de dias melhores, esperanças de dias de chuva para controlar a colheita do ano, eram dias de sol para que a criançada pudesse na rua brincar, eram dias de festas na paróquia que todos estavam convidados.

Havia música para alegrar os corações, músicas que tinham letras que falavam de amor, falavam da vida que como nos fados portugueses cantavam a emoção e às vezes misturavam a dor. 
Sim, este mundo existiu, e hoje aqueles que têm o privilégio de manter a memória “afiada” que completam seus 70, 80, ou mais anos, recordam com carinho deste tempo e dele extraem contos que contam para seus netos e também para seus bisnetos, um passado que passou e que na memória ficou. 
Assim os dias se foram, sonhos que foram realizados, mas também outros tantos sonhos que apenas foram sonhados, muitos que não puderam ser realizados.

Sonhos vividos que puderam ser realizados foram sonhos que foram construídos com dignidade, vividos dia-a-dia e esperados com alegria, expectativas, ansiedade sonhos que foram realizados com grande esforço e paixão.
Foi um mundo em que hoje aqueles que eram mais jovens e que agora estão na maturidade da vida se recordam, recordam de sua infância, recordam de sua juventude e “neste mundo” às vezes estacionam com medo do mundo que hoje e que agora vivem.
Um mundo violento sem regras, as músicas sem letras as letras que escrevem pouco da melodia e muito da pornografia, pornografia sem medida, explicita sem censura.
Um mundo individualista, um mundo muito capitalista, é o mundo que hoje nos cerca, que faz aproveitando da tecnologia o conhecimento sem inteligência desta gente que não sabe mais sonhar. 
No entanto, sei que ainda temos recursos, muitos sonhos ainda para sonhar e para aquelas que passaram dos 55 anos estes sim, devem acreditar que mesmo em meio a tanta confusão ainda podem sonhar, sonhar com dias mais felizes onde seremos nós os protagonistas de nossas próprias vidas, mudando as estórias contadas e escrevendo as historias de quem somos nós.
Fazendo desta perspectiva um mundo melhor, vivendo o melhor a cada dia o melhor de cada um de nós. Um melhor onde se possa encontrar nas peculiaridades a originalidade e fazer da vida a melodia que ela precisa ser.
Esquecer na medida do possível aquilo que parece ser impossível, acreditar que o amanhã se ele chegar você poderá sem hesitar ditar as normas para viver com mais intensidade e maior sabedoria, hoje você pode, você tem o direito de ser feliz e viver todos os sonhos que ficaram para trás. Sua idade permite você já plantou você já fez algumas colheitas agora é sua vez, sonhe, reveja aqueles sonhos que não puderam ser realizados, preste atenção se ainda valem a pena coloca-los em algum lugar se você assim achar, faça acontecer e deixe a vida novamente florescer.
Projete seu sonhos passados, realize-os com as medidas do presente, não permita que a sensação estranha que talvez possa ter o nome de impotência tome conta do seu ser apenas por estar permitindo-se realizar algo que a tanto tempo ficou guardado, mas nunca esquecido na memória de sua vida, repito, faça acontecer, permita-se viver.
Os medos farão parte desta nova caminhada, eles serão comuns nesta jornada, para muitos terá nome de loucura, mas quem comanda sua vida agora é você e ninguém melhor que você mesma saberá até onde pode chegar sem ninguém te magoar.
Então, claro que ainda é possível, evidente que você pode e deve sonhar, planejar, manipular, especular, idealizar… o importante é acreditar que você é capaz…
Pense nisso.
Gilwanya Ferreira
Psicóloga CRP 04/42417

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