Realizar um Sonho

Muita vezes imaginamos que a realização de um sonho é algo impossível, sonhamos uma vida inteira com algo que às vezes não é tão difícil assim de se realizar, mas as condições pessoais, familiares (financeiras ou não) nos impedem de agir.

Isto acontece com qualquer um de nós agora imagine quando este sonho acontece com uma pessoa idosa, alguém que hoje tem 81 anos.

A história que vou contar é dela, Dona Geralda Aurita, uma senhora incrivelmente sorridente que tive a honra de “cuidar”.

Tudo começou no dia 08/10/2018 quando fui chamada e gentilmente recebida pelas suas filhas, elas me relataram que estavam “preocupadas” com a saúde mental de sua mãe e queriam um acompanhamento psicológico, mas tinham o receio de eu não ser “bem vinda”.

Como de costume expliquei a elas que não precisariam se preocupar porque o carisma entre a profissional e a paciente chegaria a seu tempo.

Foi assim então que nossos encontros começaram no dia 16/10/18 e nas tardes de terça feira estava eu ali, acompanhando e ajudando esta pessoa tão especial conscientizar – se da necessidade  de mudar seus hábitos e seu comportamento para que sua qualidade de vida e seu bem viver se tornasse daquele dia 16/10 em diante muito melhor dos que já haviam sido até então.

Os encontros eram excelentes, a aceitação, a interação e a integração mútua foi sem dúvida o diferencial, ela se empenhava com “toda garra” a dar o seu melhor para que toda mudança acontecesse.

Um dia, nestes nossos encontros como é de meu costume já há algum tempo perguntei a ela:

– Dona Geralda, a senhora tem algum sonho que gostaria que fosse realizado e que ainda não conseguiu realizar?

Ela sem pensar me disse:

– “Sim, eu gostaria muito de poder andar de avião, nem que fosse um voo curto para que eu pudesse sentir-me lá nas alturas”…

Foi lindo enxergar o brilho em seu olhar naquela tarde de novembro, lembro-me bem daquele rosto lindo e sorridente relatando seu sonho.

Já faz parte de meus atendimentos fazer esta pergunta a aqueles que “cuido”. Como psicogerontóloga eu pude perceber com experiências vivenciadas que na maturidade da vida um sonho realizado pode significar muito para o bem estar, para a autoestima, para o intelecto e até mesmo para que aquele sujeito ainda continue acreditando que viver é a cada dia poder sonhar e que os sonhos ainda podem ser realizados.

Percebi ao longo dos dias em minhas terapias (vale lembrar que trabalho com a cognição, com  cognitivo comportamental) que o incentivo da realização de algum sonho faz com que o idoso tenha mais interesse em realizar sua mudança de comportamento para alteração da queixa inicial assim como também mais interesse nos exercícios de reabilitação ou manutenção cognitiva fazendo com que sua vida “se transforme em uma vida melhor”.

Assim que foi acontecendo, pouco a pouco, semana por semana, Dona Geralda se empenhando, se dedicando e se entregando aos “nossos trabalhos”, ela estava mudada, sua atenção, concentração e memorização estavam se afinando a cada semana, mais e mais ela estava me mostrando sua capacidade e principalmente sua vontade de mudar, de fazer de sua vida uma vida diferenciada.

Falávamos sempre sobre a possibilidade de realizarmos seu sonho e ela sempre acreditava “sem querer acreditar”, mas eu atenta às suas mudanças e ao esforço dedicado a cada exercício realizado me empenhava também nesta tarefa assim como fiz em outras situações e com outros pacientes idosos.

O empenho era visível, as mudanças ocorriam a cada semana espantosamente rápidas e grandiosas, Dona Geralda estava mesmo muito dedicada ela precisaria realizar seu sonho.

Procurei a direção do Aeroclube de Pará de Minas e graciosamente fui recebida pela Senhorita Áquila que ouvindo meu relato se dispôs ajudar-me com “esta tarefa” gentilmente alguns dias depois de minha ida ali ela me liga dizendo que “O SONHO SERIA REALIZADO” ela com toda sua competência conseguiu um voo panorâmico e a data eu poderia marcar.

Sonho já possivelmente realizável, eu anunciei à Dona Geralda sua vitória, ela realizaria o sonho de voar.

Os dias passaram, ela mudou, reconquistou uma condição de vida diferenciada, faz pilates, suas filhas não descuidam dos exames de rotina.

Dona Geralda tem uma família linda, netos que a amam demais (em especial o neto Felipe) ela continua sorridente e muito atenciosa. Sua qualidade de vida está garantida por mais muitos anos adiante.

Chegou o último dia de nossos encontros, Dona Geralda está de alta e agora é a hora de marcamos o dia D… preparativos, atestado médico (todo cuidado com a saúde física também é necessário) tudo pronto…

O sonho foi realizado! Dona Geraldo voou neste último sábado, dia 24-08-19 com o competente Piloto Dalton, atencioso nos ajudou a posicionar Dona Geralda que acompanhada de seu marido Sr. José foram conhecer um pouco mais do firmamento lá das alturas. 

Este dia ficará também marcado em minha memória e em meu coração porque eu acredito que:

-“NÃO EXISTEM SONHOS IMPOSSÍVEIS PARA AQUELES QUE REALMENTE ACREDITAM QUE O PODER REALIZADOR RESIDE NO INTERIOR DE CADA SER HUMANO E SEMPRE QUE ALGUÉM DESCOBRE ESTE PODER ALGO ANTES CONSIDERADO IMPOSSÍVEL SE TORNA REALIDADE”.

Albert Einstein

Atender a um idoso não é apenas recebê-lo em seu consultório ou (no meu caso) atendê-lo em sua residência. Cuidar da saúde psicológica de um idoso vai além dos exercícios de cognição ou do incentivo à mudança de comportamento.

Eu nunca acredito em algo apenas porque “ouvi falar” eu sempre busco respostas às perguntas que tormentam o meu pensamento e uma delas foi justamente esta:

– Porque não posso fazer mais do que ser uma psicogerontóloga? Porque não posso aproveitar os ensinamentos da “minha mestra, saudosa Cidah Viana (Dra.Palhaça) e associar ao meu conhecimento científico a minha alegria de também ser uma DRA. PALHAÇA?

Claro que a ética e o cuidado com a psicologia me conduzem a uma postura, mas o olhar diferenciado me faz diferente a cada atendimento porque eu acima de tudo CUIDO DE PESSOAS, cuido de seres que caminharam longamente pelas estradas da vida e cada um dentro de sua subjetividade possuem riquezas inigualavelmente inexplicáveis para ouvidos que não sabem ouvir, para braços que não conseguem abraçar por achar que são profissionais de mais, ou para bocas que não conseguem dar um beijo carinhoso ao se despedirem “até semana que vem”.

Eu faço diferente, eu cuido não só da saúde psicológica daqueles que me procuram mais eu cuido também do coração de cada um fazendo com que este coração possa transbordar e se manifestar em comportamentos diferenciados e um largo sorriso nos lábios.

Portanto, realizar um sonho é ajudar aquele que realiza seu sonho crer que todo esforço dedicado valeu a pena não apenas como recompensa, mas como uma possibilidade de que ainda está no tempo de planejar novos sonhos e sonhar porque são os sonhos que nos impulsionam para uma vida melhor mesmo sendo este sonhador uma pessoa idosa.

Pense nisso

Gilwanya Ferreira

CRP 04/42417

Compartilhe este artigo com seus amigos!
  •  
  •  
  •  
  •  

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado.