E agora, o que faço? Meu “namoro” acabou.

 

 

Como enfrentar o término de um relacionamento quando se tem alguns anos a mais

 

Ai, um dia um chega perto do outro e diz, acabou, assim, simples assim como se a vida e na vida as coisas fossem tão fáceis assim.

Que importa se o tempo foi de um mês ou um ano, que importa se tem cinco ou trinta anos juntos, dividindo o mesmo espaço mesmo que seja em espaços diferentes. O que importa é que acabou.

Chegou o fim de um relacionamento e nesta hora muitos não sabem como agir, o mundo parece que vai acabar, o sol não brilha mais, a lua ficou descolorida e a vontade de não sair mais de casa aparece como um passe de mágica, as noites parecem que nunca mais vão acabar, o sentimento de impotência e a autoestima chegam avassaladoras acabando com a vida que estávamos vivendo e ai  é possível  não enxergarmos o óbvio e ainda nos zangarmos com todos que estão à nossa volta.

Quem nunca sentiu todas estas reações e até outras mais quando enfrentou esta situação?

Até posso acreditar que existiu e existem pessoas que começaram um relacionamento e nunca terminaram, mas tenho certeza que são exceções, raridade e de verdade torço para que sejam sempre felizes como devem ser.

Eu sei que é difícil tudo isso para quem é jovem e está em uma etapa da vida que ainda há tempo e oportunidade de “mudar o rumo” do acontecido, de mudar toda trajetória vivida de fazer da “tragédia” uma transformação para novas descobertas e novas conquistas, mas e quando se tem mais de 45, 50, 60,70 ou mais anos? Como pode ser encarado o término de um relacionamento na idade madura da vida sem que isso afete o estado emocional do sujeito em questão?

Este tema tem uma pontuação bastante interessante e ao mesmo tempo instigante, pois temos o costume de “enxergar” o namoro apenas na tenra idade e não na maturidade, porém com a evolução dos tempos, com a liberdade de expressão e de demonstração da mesma as coisas mudaram e ainda continuam mudando, somos hoje livres em qualquer idade para expressar e viver nossos sentimentos.

Na atualidade pessoas com mais de 45 anos que estão sozinhas buscam um novo recomeço, procurando companheirismo, amizades sempre com a expectativa da construção de um sentimento que vão chamar de amor e durante esta convivência alguns deles nomeiam esta relação chamando-a “namoro”, mas um namoro muito mais tranquilo e mais maduro, um namoro consciente de uma convivência aberta com finalidades baseadas na construção da fidelidade e do afeto.

Claro que muitos sabem e conseguem ter certeza de que o dito popular  “felizes para sempre” pode até existir, porém é uma situação totalmente ainda inesperada, pois cada qual quando se esta na idade madura entende que o tempo corre contra o tempo e que todas as possibilidades de se reencontrarem em um novo relacionamento e deste fazer momentos felizes precisa estar sempre dentro do tempo presente porque o amanhã não se vive, vive-se o agora, o momento.

Maduros de hoje já viveram momentos lindos de amores que pareciam ser eternos também presenciaram que não foi bem assim, aquele sentimento que parecia ser tão sólido para alguns chegou ao fim, não conseguiu sobreviver às vicissitudes do dia-a-dia.

Não queremos dizer do fim de um relacionamento pela perda através da morte do outro, estamos enfatizando o término de um “namoro”, o fim de um relacionamento que talvez um dia também foi chamado de “amizade colorida” ou quem sabe nem ter sido nomeado, ter sido apenas aquele relacionamento vivido intensamente, um relacionamento de convivência plena com  troca de carícias e também de intimidades.

Uma vez conversando com uma grande amiga que já estava na maturidade da vida ela me contou que tevê muitos “namoricos” pela vida afora e que desde muito jovem conhecia rapazes que poderiam ser um grande parceiro romântico, ela se “apaixonava” por quem eles eram, se apaixonava pela forma com que eles a tratavam, mas nunca havia firmado em nenhum relacionamento, até que aos seus 30 anos conheceu aquele que ela jurou ser “para sempre”, o amor parceiro, perfeito que  parecia ser algo inabalável.

Eles pareciam ter trocado os corações, os desejos e anseios eram iguais e eles não se separavam, o namoro durou alguns anos e aos 35 anos eles então resolveram se casar.

O casamento foi perfeito, a lua de mel não havia outra tão maravilhosa e eles se julgavam inabaláveis até que ao completar 55 anos ela ouviu de seu companheiro que aquele casamento precisava acabar, que “os encantos” haviam se tornado rotina e que eles não podiam mais viver juntos, era o fim de um “conto de fadas”.

Ela (minha amiga) se debulhou em lágrimas e sem entender o que havia acontecido ficou atônita, sem movimentos, parou no mundo, não queria mais fazer nada, durante as noites sozinha ela não conseguia imaginar outra coisa a não ser os braços de seu companheiro e todos os momentos vividos até aquele fatídico dia.

Ela estava irreconhecível em suas atitudes, tornou-se áspera e agressiva, ela já não chorava como antes, mas não queria mais sorrir, sua vida parecia ter acabado junto com o término de seu relacionamento.

Ela então se perguntava, precisávamos mesmo ter terminado? Precisávamos mesmo termos separado um do outro? Será que preciso mesmo me afastar dele? E ela não encontrava respostas para nenhuma dessas perguntas.

Numa tarde a convidei para sairmos juntas e mesmo com tanta relutância consegui convencê-la e fomos a um barzinho aconchegante que eu conhecia na periferia da cidade que vivíamos, eu sabia que ali ela não “correria o risco” de reencontrar seu ex.

Sentamos e começamos a conversar e dentro de nossa conversa percebi a mágoa que ela vivia e o sentimento de culpa que a acompanhava.

Percebi que era em vão qualquer opinião e apenas deixe-a falar, desabafar foi então que consegui mostra-la que nada é eterno e que todos nós estamos em evolução que somos como águas na correnteza de um rio, nunca passaremos duas vezes pelo mesmo lugar.

Pontuei a ela sobre a vivência necessária do “luto” porque qualquer perda é um luto para nossa vida e é necessário viver, é necessário “voltarmos” ao nosso casulo e novamente permitir a transformação de nosso ser, precisamos viver o medo da possível solidão, precisamos viver a angustia do abandono “sem razão”, precisamos viver a negação nos permitindo “não nos importar com o que aconteceu”.

É preciso viver a ira de acusá-lo ser o pior homem do mundo, é preciso então negociar conosco mesmo o sentimento que dói, imaginando uma troca de valores, “já que estou livre, vou viajar e aproveitar tudo que puder”.

Depois disso tudo como se não bastasse, depois de chegarmos desta “viagem” mesmo que ela seja imaginária é necessário um novo começo, é preciso nos permitir novamente “entrar em um estado de depressão” onde tudo novamente parecerá horrível, tudo ficará novamente escuro como noites de temporal e só assim vamos começar a  perceber que como somos seres mutantes e que vamos conseguir erguer nossas cabeças e começar a doce aceitação, a nova forma de viver.

Começaremos “transformando” nossa casa em uma casa “a nossa cara”, mudaremos nossa forma de vestir, mudaremos nossos cabelos e penteados, vamos preparar a nossa melhor refeição e degusta-la com o prazer e adoração.

Vamos abrir as janelas e começar a perceber que “existe luz” do lado de fora. Será a metamorfose acontecendo dentro de nós.

E neste momento minha amiga me olhou nos olhos e me disse:

– “Eu vivi todas estas etapas agora quero abrir as janelas e voar”

Foi um espanto de alegria ouvir esta pontuação de sua boca, mesmo tímida eu percebi que ela queria recomeçar, que ela queria novamente seguir e que ela precisaria acreditar em seu próprio potencial e em seus propósitos, ela queria seguir.

É este é o caminho, é o caminho para todos nós maduros que vivemos um dia o  término de um relacionamento.

O que precisamos é acreditar, precisamos resgatar do relacionamento que acabou as vivências vividas, as expectativas e os sonhos realizados e também aqueles que não deram tempo de ser realizados.

Precisamos listar em nossas mentes o que vivemos de negativo dentro de cada subjetividade para que possamos apagar em nossos corações e aquilo que foi bom usar como alicerce para uma nova construção.

É necessário derrubar as edificações do tempo vivido e reconstruir uma nova oportunidade para nós mesmos porque somos seres que nascemos para vivermos juntos e com certeza em algum lugar alguém também buscará a mesma edificação.

Saber amadurecer mesmo na idade madura e entender que todos nós em algum momento de nossas vidas vamos viver um término seja ele qual for é compreender que somos também capazes de mudar o percurso desta história e que as páginas que foram escritas podem ser transformadas em um livro lindo de capas coloridas, mas que também novas páginas podem ser abertas e um novo livro pode ser editado.

Pense nisso.

Gilwanya Ferreira

CRP 04/42417

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