OS MAUS-TRATOS SUTIS PARA COM OS IDOSOS

Quando pensamos em maus-tratos imediatamente pensamos em um tipo de violência seja ela física ou psicológica que uma pessoa exerce sobre a sua outra pessoa.

No entanto, existem outros tipos de maus-tratos, maus tratos que aqui chamamos de  “maus-tratos sutis”que são aqueles praticados em algumas ocasiões, em determinadas situações  em que não nos damos conta da gravidade em que aquele que é mau tratado é afetado.

Maus tratos sutis são aqueles ataques encobertos aos quais não se costuma haver  reação porque a agressão não é tão direta, ou pode até ser que a intenção não seja de causar dano. No entanto, por serem constantes elas vão destruindo a autoestima e a confiança que temos de nós mesmos.

No caso de idosos estas “agressões sutis” são fatos relevantes e dignos de atenção, pois nesta faixa etária da vida além de todos os problemas que o sujeito vive sofrer com tais agressões é algo totalmente inaceitável.

Tais maus tratos podem ser exercidos pelos próprios familiares que em alguns casos cuidam de seus idosos “por obrigação” por não terem condições financeiras para conseguir ajuda de um cuidador ou mesmo de uma instituição, porém, estes mesmos maus-tratos também podem vir de cuidadores, enfermeiros, atendentes de instituições ou lares, de amigos, dentre outros, pessoas diretamente envolvidas com idosos e que dizem amá-los e agem de tal forma por cuidado e amor.

A explicação abaixo servirá para identificarmos com mais clareza o que podem ser os tais “maus-tratos sutis”.

No quesito pessoal, vida diária: – Imagine um idoso que já com dificuldades motoras ainda tenta com toda sua garra fazer suas refeições sozinhos, tenta comer com os talheres adequados, aos quais esta acostumado, este sem intenção, mas devido à suas dificuldades, espalha comida por todo lado da mesa, derrama líquidos ou mesmo se suja, molha suas roupas, a toalha de mesa e o chão.  Toda vez que este deixa cair algo é recriminado negativamente, caso deixe algo cair e quebrar é imediatamente julgado como incapaz e logo vem uma ajuda, mas não com o intuído de estimulação e sim de recriminação: -.

 

“VOCÊ JÁ TEM AS MÃOS MOLES.

NÃO CONSEGUE MAIS FAZER NADA.

DEIXA, TE DAREMOS COMIDA NA BOCA.

NÃO AGUENTAMOS MAIS TANTA SUJEIRA” etc.

 

No quesito financeiro:

“VOCÊ ESTA CADUCANDO, COMO PÔDE PAGAR “x” POR ESTA BLUSA?

VOCÊ! “NÃO! NÃO PODE MAIS FAZER COMPRAS SOZINHO, TEMOS QUE ACOMPANHA-LO PARA QUE NÃO TE PASSEM PARA TRÁS” etc.

Nos cuidados pessoais:

“VEJA, NEM CONSEGUE MAIS SE LIMPAR SOZINHO.

NÃO PARECE QUE TOMOU BANHO, ESTÁ COM OS PÉS MUITO SUJOS”

VOCÊ ESTÁ FEDENDO XIXI, NÃO CONSEGUE MAIS SE LIMPAR?

NEM CONSEGUE MAIS PENTEAR SEUS CABELOS, ESTÁ MUITO FEIO(A).”

 

E assim sucessivamente nas pequenas coisas do dia-a-dia e em situações diversas.

Com o passar dos dias este sujeito começa a acreditar que realmente está mesmo impotente de suas próprias atitudes, passa a não acreditar em si próprio e em sua capacidade de adaptação à nova realidade e nas dificuldades de se encontrar ele começa a comparar-se com si próprio em idades mais jovens.

Na medida em que os dias vão passando, os familiares, cuidadores, etc. passam a usar essa forma desajeitada e algumas vezes avoada para justificar as incapacidades que o idoso adquire de fazer o que quer que seja e a cada dia reforça mais e mais a conscientização de que este está mesmo incapaz de fazer qualquer que seja a atividade a ele confiada.

Estas atitudes nada mais são do que “MAUS TRATOS SUTIS”, o que leva o idoso a desenvolver grande insegurança, baixa autoestima, isolamento social e até quadros de ansiedade, angústia e depressão por acreditar que é mesmo incapaz.

É importante saber que este tipo de comportamento é muito comum em nossa realidade, e que é muito difícil reagir diante deles, devido a tanta sutileza.

São coisas pequenas que, ao se converterem em persistentes, acabam ferindo, até o ponto em que nos tornamos completamente indefesos.

O principal problema dos maus-tratos sutis é que as pessoas que assim agem não veem problema nenhum em suas palavras e ações. O que para eles é uma “brincadeira” ou uma forma de ajuda, para os idosos é uma clara ofensa.

É fundamental que aquele que reconheça tais atitudes aja em defesa do sujeito em questão respeitando sua integridade e subjetividade, não permitindo que tais atitudes continuem, esclarecendo que mesmo com dificuldades o idoso é capaz de tomar certas atitudes em se tratando de seus cuidados pessoais e que caso seja necessário o mesmo pedirá ajuda e assim, ele próprio reconhecerá suas restrições não afetando sua autoestima.

O profissional da Psicologia do Envelhecimento, o Psicogerontólogo nesta hora é importante para ajudar o idoso a identificar e proteger-se diante de tais atitudes.

Com técnicas adequadas o Psicogerontólogo ajuda também na mudança de comportamento e de hábitos que vão  fortalecer e facilitar a vida e o dia-a-dia do idoso e, assim evitar ansiedade, angustia e até mesmo a depressão e naturalmente como consequência de um trabalho consciente  melhorar a qualidade de vida e o bem viver de cada um.

 

Pense nisso.

 

Gilwanya Ferreira

CRP 04/42417

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