Por que Viajar faz tão bem?

Hoje meu texto será escrito para contar um pouco de minha experiência pessoal no que diz respeito a Viajar Faz Bem.

Contarei relatos reais, fatos ouvidos, outros lidos e com certeza muitas alegrias envolvidas em tantas viagens que fiz acompanhando grupos da terceira idade.

Bem, vamos lá.

Durante o tempo em que vivi na Europa pude ter o prazer de conhecer dentre tantas realidades culturais diferenciadas da cultura brasileira um hábito que me chamou atenção desde o início de minha “temporada” fora do pais e que me chama atenção até hoje.

Menciono espanhóis, portugueses, suíços, franceses e italianos, pessoas e culturas que tive o prazer e a graça de conviver bons anos de minha vida, todos “maiores”, idosos, mais todos eles ativos e participativos.

Pessoas que ao longo de suas vidas vão se conscientizando de que “ter idade” não significa “parar na vida”, “parar no tempo” até pelo contrário, eles a partir de certa idade começam sem qualquer tipo de preconceito movimentar-se ativamente, viajando, frequentando academias e fazendo muitas outras atividades que para nossa cultura ainda pode ser considerada “coisas de pessoas jovens”, sem falar que, praias e cafés são hábitos naturais desde a infância.

É muito lindo sentar nas praias europeias e apreciar a população idosa desfrutando do mar com tanto prazer, me orgulhava olhar mulheres e homens mais velhos vestidos com seus trajes de banho sem nenhuma vergonha, não se preocupando com o olhar do outro sendo completamente inteiros e felizes naquele momento de desfrute junto da natureza.

É prazeroso e até mesmo empolgante sentar ao lado de uma “turma” da terceira idade e ouvir suas prosas, comentários, comparar situações e sugestões.

Parece um sonho acompanhar os passos do bailar da terceira idade, todos, sem exceção interagindo-se uns com os outros alegremente no ritmo de cada música antes que o dia termine.

Quanto posso dizer o quanto estas pessoas me ensinaram e o quanto enriqueci meus conhecimentos convivendo com eles tanto tempo.

Um fato interessante que me ocorreu há algum tempo atrás me incentivou escrever o que vou escrever agora.

Numa tarde de domingo, sentada às margens do rio Tejo, em Lisboa, num café, não consegui não reparar um grupo da terceira idade que barulhentos ali também estavam, cantando e rindo alegremente, todos eram participativos e interagiam-se como se fossem adolescentes saindo de uma tarde de baile.

Não pude evitar ouvir a conversa de uma senhora que sentada ao meu lado conversava alegremente com outro grupo de pessoas. Ela aparentava ter por volta de seus 90, era portuguesa, (logo notei, claro, pelo sotaque), ao lado de seu marido, um francês (notei também pelo sotaque) e este com aparência similar, não mais que uns 91 anos, lindos, falavam como eles se sentiam tão bem quando estavam viajando, o quanto eram felizes e o quanto sua saúde tanto física quanto mental teve uma melhora significativa depois que eles tomaram a decisão de “ganhar o mundo”, conhecer novos costumes e fazer novas amizades.

Na época como estudante de pós-graduação em psicogerontologia ali mesmo em Lisboa, não resistir a curiosidade e o impulso foi maior, buscando conhecimento abordei esta senhora, alias estas duas criaturas e interferi na prosa perguntando: –

Por que viajar faz tão bem?

Amavelmente eles me olharam e começaram paralelamente me dizerem tantos benefícios que eles haviam alcançado depois de terem tomado tal decisão.

Falaram-me que a idade não pode ser uma limitação para o prazer do conhecimento, da alegria e da “juventude eterna”, que uma viagem pode fazer “milagres”, para alguns pode ser o “divisor de águas” para outros e para todos faz bem para depressão e é excelente para ansiedade, para o coração, dizia ela, nem se fala, em algumas situações “Jesus Cristo” e dona Judith a narradora disparou a rir…

Eu sem entender, perguntei novamente: Diga-me que alegria é esta? Por que Jesus Cristo está assim tão bem colocado nesta história?

Ela então docemente olhou para seu marido e respondeu-me, “Eu o conheci em uma viagem à França, nos olhamos e imediatamente nos apaixonamos” por isso disse que para algumas situações Jesus ajuda-nos.  Novamente uma alegre risada entre ambos eu pude presenciar.

Outra senhora aparentando seus conservados 70 anos, interferiu dizendo: – “Eu fiquei casada 40 anos, meu marido era muito ruim para mim, ele não deixava faltar nada dentro de casa mas era muito bravo, judiava com as crianças e nunca permitiu que saíssemos de casa além de que para a igreja. Eu sempre tive vontade de viajar, conhecer o Brasil, pois me diziam que era uma terra linda, mas nunca imaginei além de que nos sonhos, nas novelas brasileiras na Tv, e em livros. Agora sou viúva, ele morreu  já a algum tempo e meus filhos que me “empurram” para as viagens, eles estão bem de vida e pagam tudo para mim. Eu era uma mulher triste, vivia sentindo dores daqui e dali e assim que comecei viajar parece que fui como mágica, tudo desapareceu, hoje sou feliz, não tenho pressão alta, não tenho colesterol, nada, nada, sou forte como um touro. Viajo muito, já fui ao Brasil 3 vezes e pretendo ir mais ainda, conheci a França, (olhou para a colega feliz com o marido francês), conheci a Itália e a Bélgica, já fui várias vezes na Espanha e se Deus quiser quero morrer sentada na cadeira de um autocarro”

Um senhor, forte, corado, sorridente pediu para contar a história dele, disse-me que é solteiro, não se casou porque se sentiu na obrigação de cuidar de sua mãe que ficou viúva muito cedo e como ele é filho único não conseguia imaginar-se casado e a mãe a viver sozinha, então quando se deu conta ele já tinha seus quase 60 anos e assim que se restabeleceu da morte de sua mãe uma amiga lhe convidou para fazer uma viagem aos Açores com uma excursão de pessoas idosas. “Foi ótimo sabe menina, eu no inicio fiquei muito envergonhado, não sabia como falar, como agir, tudo era novidade, eu também me sentia muito velho, sentia-me triste de mais, mas minha amiga estava sempre me incentivando a ver as coisas bonitas, me mostrava as coisas diferentes nas montras (vitrines de lojas) e assim eu fui me soltando, agora não quero mais parar de viajar.”

Neste momento pude perceber que todo grupo estava agora sentado ao redor de nossa mesa, cada um queria contar melhor seus “causos” quando uma senhora bem velhinha e usando um andador se levantou de onde estava e disse-me: “Menina, posso eu falar?” Claro!  Respondi, então ela sentou-se novamente e começou narrando, “Olha, sou moçambicana, cresci em Moçambique e vim para Portugal quando me casei, éramos muito pobres e meu marido queria poder me dar uma vida melhor.

Aqui chegando  e logo que arrumamos uma casinha para morar eu fui trabalhar para ajudar nas despesas. Ganhávamos muito pouco, mas Deus nos dava forças e íamos conseguindo pouco a pouco as coisas. Eu queria muito ter filhos, tentamos mas creio que não era do meu destino ser mãe (lágrimas nos seus olhos envelhecidos rolaram), mas eu não me entreguei a tristeza, lutei ao lado dele até o fim, fomos muito felizes. Ele era um marido muito bom, conseguimos ter uma vida boa, eu ajudava muito minha família e ele também a dele. Quando ele se reformou (aposentou) e eu também decidimos viajar pelo mundo, éramos ainda muito jovens e nos sentíamos bem, não tínhamos compromissos cá em Portugal que nos prendesse e nossa reforma(aposentadoria) era muito boa, dai então partimos nós mundo afora, conhecemos muitas culturas diferentes , culinárias umas deliciosas, outras nem tanto, conhecemos povos e também uma tribo de índios , foi muito emocionante esta experiência, eles são muito cultos. Nossa casa era apenas um lugar de passagem, não mais ficávamos tanto tempo parados. Eu hoje tenho 98 anos, me sinto “uma menina” ainda, meu marido me deixou, Deus o levou a 5 anos apenas e  um dos pedidos dele no leito de morte foi que eu não chorasse sua morte e continuasse tomando meu vinho e viajando até quando não conseguir mais, e isso que tenho feito, posso dizer-lhe que sou uma mulher de sorte”

Quando me dei conta do tempo vi que estávamos ali já há quase 3 horas no “bate papo”, eles estavam me fazendo tão bem que eu não queria ir embora, e pelo visto eles também “perderam a noção do tempo”, mas eu precisava ir, com lágrimas nos olhos abracei cada um deles e agradeci carinhosamente a lição de vida que cada um havia me dado e disse-lhes que um dia eu iria contar estas histórias para o mundo. É agora é a hora.

Quando falo de viagens falo de vida, de solidariedade, de novas amizades e do aprendizado de novos costumes e novas culturas.

Não é necessário ser letrado para ser um viajante, viaja-se para enriquecer conhecimentos e saberes, viaja-se para abraçar o mundo que nos rodeia e poder ter em mente a miscigenação dos povos em todos os lugares.

Viaja-se para conhecer as arquiteturas, a religiosidade e as curiosidades predominantes de cada lugar.

Enquanto conversava com aqueles senhores tão simpáticos pude também aprender muito. Aprendi que todos são muito cuidadosos no que diz respeito à suas saúdes tanto física quanto mental, eles buscam por ajuda psicológica periodicamente, (cultura ainda não muito aceita entre a população idosa no Brasil), eles fazem exames médicos com frequência porque sabem que é necessário tomar certos cuidados para que todos desfrutem tudo que estiverem ao alcance sem sobressaltos.

Eles tem o cuidado de escolher entre os roteiros oferecidos lugares que possam significar algo em suas histórias de vida e que possam acrescentar mais e mais em suas “bagagens”

Aprendi que nas malas eles levam muito mais que roupas e acessórios, eles carregam esperanças e desejos, eles colocam em cada “cantinho” de suas malas tudo que possa deixa-los mais “ricos” de conhecimento e sabedoria.

Eles fazem questão de fazer novas amizades e muitos deles se deleitam na tecnologia para não “perder mais o contato com esta nova geração de amigos”.

Eles carregam câmeras fotográficas ou fotografam com seus tele móveis (celulares) modernos, eles sabem usar um tablete e conhecem bem o que seja “pedir a senha do wi-fi” em um hotel em Amsterdã.

Eles sabem que o ritmo de cada um corre a favor ou contra o relógio da vida na idade que tem, mas não se importam muito com isto, eles caminham a seus passos e querem conhecer cada cantinho de cada lugar. Eles não abusam de suas velocidades.

Surpreendeu-me ouvi-los dizer que todos tem assistência médica em planos de saúde que podem ser solicitados em toda parte, que todo grupo se preocupa com tal particularidade para evitar transtornos, demora ou possíveis constrangimentos caso necessário.

Eu entendi muito bem quando ouvi um deles dizer que os hotéis precisam estar adaptados à nova realidade dos novos frequentadores, eu entendi que eles quiseram dizer que é preciso rampas de acessibilidade, casas de banho (banheiros) adequado, refeitórios e corredores iluminados, elevadores, camas confortáveis e, sobretudo pessoas adaptadas e culturalmente preparadas para atendê-los no que for preciso.

Enfim, viajar é sempre algo bom quando se gosta e quando se pode. Não estamos aqui para enquadrar todo idoso no quanto é bom viajar, claro que não, precisamos respeitar cada um, precisamos entender que muitos não se sentem bem “fora” do seu habitat natural e precisam desta segurança para manterem-se saudáveis.

Aqui estamos pontuando a opinião de vários grupos da terceira idade que viram neste novo “estilo de vida”, viajar, algo bom e que traz vida para suas vidas, que alimenta esperança e conserva expectativas que os fazem sonhar, planejar novos roteiros e consequentemente viver.

Muitos sabem que não podem ou não conseguem mais viajar sozinhos, mas sabem também que hoje existem pessoas preparadas, psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros, fisioterapeutas, dentre outros profissionais que se dispõem acompanhar grupos de idosos em viagens, proporcionando a eles conforto e acima de tudo confiança e segurança no trajeto percorrido, basta solicitar a agencia contratada.

Esta nova geração de viajantes são pessoas que aprendem facilmente e aceitam tranquilamente, por exemplo, a necessidade de um guia especializado que poderá ajuda-los no que diz respeito ao idioma do lugar e a tradução necessária.

Eles unem o útil ao agradável, o que eles não querem é perder nenhum passeio.

Por fim aprendi que Viajar faz bem, viajar cura, alimenta e pode mudar qualquer rumo da vida quando de vida se necessita para viver.

Outras histórias um dia contarei.

Pense nisso.

Um abraço carinhoso

Gilwanya Ferreira

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