Saudade, como o idoso lida com esse sentimento.

“Saudade” a mistura de sentimentos que invade o coração e a alma da gente, Saudade daquilo que já vivemos, saudade de alguém que já esteve ao nosso lado, saudade, nostalgia de tempos que viraram história das estórias que vivemos… Saudade…
O sentimento chamado saudade faz parte da vida de cada um de nós, mesmo quando somos jovens já começamos a manifestar saudade de algo ou alguém. Um cãozinho que morreu, uma casa em que vivemos na infância, entes queridos que compartilharam com a gente, momentos que não podem se apagar.
Este sentimento é vivido por todo ser humano, porém, cada qual dentro de sua subjetividade tem este sentimento expressado de uma forma particular e única.
O que se sabe é que ninguém vive, passa por esta vida sem ter sentido saudades, não tem como, é um sentimento que envolve todos os sentidos, que nos faz de alguma forma sentirmos seguros, protegidos, é como se se vivendo na saudade estivéssemos prolongando nossos dias de vida.
Quando nos referimos à pessoa idosa, este tema pode ter uma conotação um pouco diferente. O idoso em muitos casos demonstra o sentimento de reciprocidade quando fala da saudade, ele sente saudade daquilo que foi, da pessoa que era, do quanto ativo foi, ele também sente saudade daquela pessoa, da pessoa que com ele viveu, do quanto ativo era aquela pessoa que esteve ao seu lado, ele fala da saudade sentindo muita saudade.
Sente saudade dos momentos alegres, dos tristes também, ele sente saudade dos tempos “da casa cheia” mesmo lembrando-se dos dias que não eram tão bons assim.
Para nós profissionais da psicologia o sentimento saudade para um idoso é tão natural quanto para qualquer outra pessoa de qualquer idade. Quando somos jovens a saudade é uma ferramenta que ajuda construir nossa maturidade emocional, faz com que tenhamos controle do que sentimos e saibamos dosar o quanto é necessário lembrar daquilo que vivemos ou daqueles que conosco viveram.
Porém, na maturidade nem sempre é fácil lidar com este sentimento, na idade madura nossa maturidade emocional já esta estruturada, imaginamos que deveria estar, então a saudade pode ser uma “arma”, uma porta aberta para a angustia e também para a depressão, pois ninguém em sã consciência pode viver de saudade.
É muito comum encontrarmos idosos institucionalizados com o sentimento saudade bastante aflorados. Quando ele passa a viver em uma instituição de longa permanência na maioria das vezes os primeiros meses são de euforia, novas amizades, novo ambiente, novas atividades, novos programas, porém quando tudo isso começa virar rotina a saudade invade seus corações. Muitos no início recebem visitas semanais de seus familiares e esperam toda semana por “este grande dia” com o passar do tempo estas visitas vão ficando mais espaçadas e se torna um suplicio para aquele que espera ansioso pela chegada deste dia.
São estes casos que nos chamaram atenção e nos fizeram prestar mais atenção no que esta acontecendo com este “mundo tão estranho e ao mesmo tempo tão comum chamado saudade”.
Entrevistamos em forma de conversa informal alguns idosos incluindo realidades diferentes. Idosos que vivem sozinhos, idosos que vivem em instituições de longa permanência, idosos que vivem com algum familiar, idosos que vivem com sua família e ainda tem seu cônjuge, idosos que perderam seus cônjuges e estão vivendo com filhos, idosos que perderam seus cônjuges e vivem e participam de instituições de permanência limitada dentre outros. Focamos também a diferença que há entre a realidade brasileira, espanhola e portuguesa.
Dentro de toda esta realidade vimos que a saudade para todos eles tem o mesmo significado, que para todos o sentimento saudade invade a alma e machuca ferozmente o coração, que todos eles prefeririam não sentir saudade, porém muitos deles disseram que “se alimentam da saudade” para seguir vivendo.
Ao lado desta realidade, convivendo e vivendo dia após dia com esses idosos em algumas instituições e mesmo em algumas casas com a permissão dos familiares o que nos chamou mais atenção foi o quanto não estamos preparados para lidarmos com a saudade quando estamos na idade madura.
Quando somos jovens e falamos da saudade falamos de algo que não está tão longe assim, algo ou alguém que muita das vezes poderá ser revivido ou reencontrado e até mesmo “substituído” quando se trata de um animalzinho de estimação por exemplo, porém quando se está na idade madura esta mesma saudade parece estar demasiadamente longe, tão distante que se torna impossível o reencontro para que se possa “matar esta saudade”
Sabemos que hoje existem várias maneiras de “trabalhar” com o idoso para que o mesmo se conscientize da necessidade de diferenciar a saudade, de diferenciar os sentimentos, a saudade que pode ser “sanada” daquela que não tem como mais ser revivida.
Cultivar as lembranças do passado pode ser até divertido, pode levar o idoso a reencontrar-se consigo mesmo em tempos de sua juventude e fazer do momento presente uma brincadeira com tons nostálgicos, porém se algo neste período não foi tão bom assim ele precisa ter equilíbrio suficiente para conseguir superar e entender a dor desta lembrança não deixando que esta saudade lhe fira o coração.
A realidade precisa ser compreendida e revivida a cada dia. Cada idoso quando consciente de sua realidade tem mais possibilidade de manter o equilíbrio necessário para enfrentar a dor da saudade. Conhecendo-se e conhecendo claramente sua realidade cada idoso consegue permitir ou não que esta dor invada sua alma, consegue separar tranquilamente os momentos felizes dos daquele que não foram tão bons assim e assim sendo consegue compreender seu momento presente e seguir seus dias com tranquilidade.
As feridas do passado podem chegar a ter um peso extraordinário levando o idoso á um estado de depressão tão assustador que inclusive pode levá-lo ao óbito. Não é isto que queremos por isso precisamos estar sempre atentos às manifestações de sentimento deste publico alvo.
Ensiná-los a encarar seus sentimentos e fazer deles algo mais leve é fundamental. Permitir que as influências de uma vida passada faça parte do presente, mas com sutileza necessária para viver dias de mais prazer é de suma importância, pois cada um tem um tipo único de crescimento e é este crescimento que fará com que o idoso mesmo sentido saudades possa ter e manter sua qualidade de vida e seu bem viver totalmente diferenciado dos demais.
Não é necessário esquecer o passado, o que é preciso é conhecer o lado leve da saudade de nela apoiar seus dias, fazer da felicidade a protagonista dos dias vividos.
Chorar de saudade é permitido quando necessário, mas chorar também de alegria faz bem. Quando algo não pode mais ser resolvido, resolva consigo próprio, perdoar-se e compreender-se é expressamente importante para o que o sentimento saudade seja leve e faça bem.

Pense Nisso!

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